Empresas e políticos se entrelaçam de olho nos recursos do Estado
De um lado, uma fábrica de dinheiro cuja produção parece não ter fim. De outro, grupos poderosos com recursos à disposição para financiar aqueles que lhes serão mais simpáticos se estiverem no comando dessa “indústria”. A relação entre Estado e setor privado suscita dúvidas sobre o ponto em que deixa de ser saudável para o crescimento econômico para se tratar de nada mais do que laços firmados entre políticos e empresas para benefício mútuo.
Como forma de evitar que o Estado se submeta a esses interesses, o professor do Insper e PhD em Administração pela Universidade de Washington, Sérgio Lazzarini, defende que o setor público adote regras para dialogar com a iniciativa privada. “Se vai abrir concessão, parceria público-privada, empréstimo pelo BNDES, tem que ter pessoas que saibam conversar com o mercado. O diabo é que essas relações podem ficar disfuncionais. Por isso, tem que colocar critérios”, salienta.
Autor do livro Capitalismo de laços: os donos do Brasil e suas conexões, Lazzarini explica que empresários financiam campanhas políticas com o intuito de receber em troca facilidades dos candidatos que apoiaram, caso estes sejam eleitos. “O empresário sabe que tem benefícios nessa relação, pois o governo tem uma torneira aberta. Por isso, o empresário se conecta ao sistema político”, reitera.
Segundo o doutor em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mestre em Economia pela Universidade de Brasília (UnB), Bruno Carazza, as empresas brasileiras perceberam que investir na campanha de políticos – seja para o Executivo, seja para o Legislativo – traz retornos imediatos na forma de projetos de lei que beneficiam os setores em que atuam.
“Grandes empresas nacionais começaram a identificar que é mais barato investir na campanha de um político ou de um partido do que nos seus processos produtivos e oferecer produtos melhores, mais desenvolvidos tecnologicamente”, esclarece.
Numa tentativa de estancar a corrupção por meio do caixa 2, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em 2015, proibir doações de empresas a campanhas políticas. De acordo com Carazza, autor do livro Dinheiro, eleições e poder: as engrenagens do sistema político brasileiro, a medida, no entanto, reduz a transparências nas doações e não resolve a questão do alto custo das campanhas.
“Proibir as doações de empresas é o caso clássico que para todo problema complexo existe sempre uma solução simples e que, em geral, não funciona”, alerta.
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