Por Ana Maria Malik
Tanto no setor público quanto no privado, os custos da saúde são altos para os atores do sistema. Quem paga a conta é sempre o cidadão, usuário ou não do sistema de saúde. Cabe a ele pagar os impostos dos quais é feito o orçamento do Sistema Único de Saúde (SUS). É ele que paga os produtos e serviços que as empresas fabricam e vendem e com os quais pagam os planos de saúde de seus funcionários. É ele que paga de seu bolso muitos dos medicamentos e alguns serviços que consome fora dos modelos tradicionais. De fato, é para o cidadão que os preços de um sistema que controla mal os seus custos crescem constantemente.
O sistema é mais caro do que deveria porque ele se preocupa muito mais com a doença do que com a saúde, com o mal-estar do que com o bem-estar das pessoas, com os custos do que com os resultados. Os serviços têm mais competência em identificar problemas de saúde do que em manter saudáveis os indivíduos e as coletividades onde moram. Os custos da medicina privada parecem mais altos que os da pública porque eles impactam balanços periódicos, de organizações com ou sem finalidade lucrativa.
Por outro lado, não deveria importar tanto o custo, mas os resultados obtidos com os recursos gastos. Deveria ser possível aferir quanto custa não ter casos de febre amarela e quanto custa ter um ou uma centena. Não se sabe quanto custa uma morte evitável, seja de uma mãe que não fez seu pré-natal de maneira adequada, seja de um paciente cuja assistência demorou mais do que deveria. Como precificar complicações resultantes de procedimentos desnecessários, por mais que sejam bem-feitos? Ou, ainda, quanto vale um indivíduo diabético cuja visão foi preservada por um bom acompanhamento?
Não é o caso, no século 21, de se falar de preços, de custos, de gastos, de economizar, de gastar menos ou de fazer mais com menos recursos. Existem hoje modelos de assistência que permitem controlar a saúde de uma população e identificar precocemente o surgimento de agravos. Já é possível conhecer as melhores práticas para obter os resultados mais adequados da maneira mais eficiente. Desta forma, busca-se a garantia de melhor uso do (limitado) recurso existente.
Atualmente, mais do que cura – desfecho esperado para problemas agudos –, faz mais sentido buscar cuidado, que pressupõe uma visão de longo prazo, de vínculo do indivíduo com um profissional, com uma equipe, com um serviço ou com um sistema. Assim, não se trata apenas episódios de doença, mas de pessoas como um todo, com os agravos a sua saúde. Tudo isso pode ocorrer no SUS e/ou no centro de qualquer operadora de saúde, assumindo que a continuidade do cuidado seja uma meta a ser buscada. Aparelhos de telefonia móvel podem ser usados nesse caminho, para solucionar dúvidas, para controlar sinais vitais, para levar seus dados para os profissionais. Pode ser que isso não reduza os custos, mas certamente conduz a melhores resultados.
*Ana Maria Malik é coordenadora do programa de Gestão em Saúde da FGV
Artigo publicado na revista Problemas Brasileiros, edição especial de setembro de 2018