Educação não avança sem foco no ensino básico
ENTREVISTADOS
MEDIAÇÃO
Instalações precárias, má formação do aluno e professores desprestigiados. Esse é o retrato da atual educação pública no Brasil. Em debate promovido pelo UM BRASIL, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso e o presidente do Conselho de Sustentabilidade da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), José Goldemberg, comentam que, para mudar esse cenário, o governo precisa priorizar a educação básica, que tem ficado à sombra do ensino superior quando se trata de investimentos públicos.
Segundo o ex-presidente, a precarização do ensino básico faz com que o estudante chegue à universidade em um nível inferior ao exigido pelo ensino superior. Além disso, o Brasil passou por um processo de proliferação de universidades que não gastam em pesquisa, o que também compromete a formação dos universitários.
“O importante é voltar a focar no ensino fundamental, treinar os professores e pagar salários razoáveis”, afirma Fernando Henrique. “Quanto à universidade, ela se caracteriza pela formação criativa. Então, tem de ter pesquisa. Não é só dar aula. Fazer faculdade sem pesquisa, sem que o professor seja produtor de cultura, não funciona”, completa.
Goldemberg salienta que a importância dada ao ensino superior em detrimento do ensino fundamental traz distorções para a sociedade e que a educação básica tem condições de resolver questões sociais pendentes.
“Prestigiar o ensino fundamental seria uma maneira de resolver o problema de cotas. A escola fundamental tem uma grande característica: não tem cotas, é democrática. Na medida em que os alunos se formam bem, terão acesso às universidades. A questão de preservar cotas nas universidades é artificialismo. O problema que tem de ser resolvido é a educação de base”, reforça Goldemberg, que já ocupou cargos de ministro da Educação e secretário das pastas de Ciência e Tecnologia e do Meio Ambiente.
Fernando Henrique Cardoso também comenta sobre o papel do professor na atualidade. Como, hoje, o acesso a dados e fatos ocorre rapidamente em função da internet, o docente deve despertar no aluno curiosidade para compreender o mundo em que vive.
“O que é uma boa escola? É uma escola que tem professor capaz de despertar interesse no aluno. O bom professor é aquele que incita o estudante a juntar peças que estão separadas. Não é passar números, dados ou fatos. É acender a chama pela curiosidade”, pontua o ex-presidente.
Goldemberg acrescenta que, embora desprestigiado, o professor tem uma capacidade que falta a muitos líderes na atualidade para promover mudanças na sociedade. “Trata-se de conseguir explicar direito. É o que fazemos nessa carreira”, conclui.
ENTREVISTADOS


CONTEÚDOS RELACIONADOS

Brasil e mundo vivem uma nova era geopolítica e tecnológica
De acordo com o cientista político Carlos Melo, a reorganização das forças globais deu origem a uma nova era “pós-Ocidente”
ver em detalhes
Na reforma do Estado brasileiro, foco deve estar no cidadão e no controle de gastos
Segundo Marcos Lisboa, ex-presidente do Insper, e Felipe Salto, sócio da Warren Investimentos, é preciso superar o modelo federativo, que se esgotou
ver em detalhes
Entre cliques e votos, cidadania no Brasil será cada vez mais digitalizada
Na opinião de Manoel Fernandes, sócio da Bites, política e internet caminham lado a lado no País desde junho de 2013
ver em detalhes