O Brasil precisaria de um “milagre” para conseguir atender ao item de número 6 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), que assegura a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos. Lançado em 2015 pela Organização das Nações Unidas (ONU), os 17 objetivos tratam de uma agenda de sustentabilidade adotada por países-membros para ser cumprida até 2030.
As políticas de saneamento básico e resíduos sólidos foram discutidas na segunda aula do curso de extensão UM BRASIL Sustentável: visões, desafios e direções, desenvolvido pelo canal em parceria com a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS) e o Programa de Mestrado em Análise Ambiental Integrada, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
“Exceto o Distrito Federal, nenhuma unidade da Federação trata mais de 70% dos esgotos. Se continuarmos no mesmo ritmo de investimento e evolução de indicadores de água e esgotamento sanitário, não cumpriremos a meta proposta pela ONU”, afirma o coordenador de comunicação do Instituto Trata Brasil, Rubens Filho. O encontro teve como mediador o coordenador pedagógico do curso e professor do curso de Ciências Ambientais da UNIFESP, Dr. Zysman Neiman, e também contou com a participação da professora do Instituto das Cidades da mesma instituição, Jaqueline Bória Fernandez.
Apesar da falta de otimismo no alcance da meta, Rubens Filho acredita que o Brasil possa chegar perto da universalização na data estipulada pela ONU caso haja aumento nos investimentos e os indicadores evoluam em um curto espaço de tempo. Ele aponta ainda que o resgate do investimento em saneamento básico seria feito em diversas áreas.
“Saneamento básico, sejamos sinceros, não dá voto. São obras enterradas, quilômetros de tubos que causam transtornos para o cidadão que, às vezes, não entende por que o município está quebrando a rua e atrapalhando o trânsito – mas é para uma melhoria na saúde, na qualidade de vida, no ambiente.”
Resíduos sólidos
O saneamento básico é um conjunto de quatro serviços composto por abastecimento de água, coleta e tratamento dos esgotos, resíduos sólidos urbanos e drenagem da água da chuva. Na visão da professora Jaqueline, cada um deles pode ser considerado um universo em virtude da complexidade e realidades encontradas no País. Embora as demandas sejam distintas em cada serviço, o retrato da situação atual dos resíduos sólidos é bem parecido com o do saneamento.
“Infelizmente, no segmento de resíduos sólidos não é diferente [do que ocorre com o saneamento básico]. Chama a atenção, pois metade dos municípios brasileiros ainda dispõe os resíduos de forma inadequada ou em lixões ou em aterros controlados”, destaca a professora.
Sobre os resíduos sólidos, ela afirma que a manutenção adequada pode beneficiar a economia, já que eles (exceto os rejeitos) podem ser reciclados ou reaproveitados. O melhor tratamento iria valorizar o material dentro de um ciclo produtivo.
“Temos um grande impacto ambiental por causa da ineficiência da gestão de resíduos, Por outro lado, uma camada grande da população que poderia ter emprego e renda, beneficiando consequentemente a nossa economia, e isso não está acontecendo”, conclui.
Jaqueline defende a hierarquização dos resíduos sólidos, sendo que a primeira ação deveria focar na redução da geração de resíduos, depois, no reúso, na reciclagem e em outras formas de tratamento.