Brasil tem potencial incrível, mas caminho trilhado é insustentável
ENTREVISTADOS
MEDIAÇÃO
“O Brasil é uma economia com um potencial positivo incrível. A questão é como concretizar esse potencial”. A afirmação é Jan Švejnar, Ph.D em Economia, diretor do Centro Global de Governança Econômica na Universidade Columbia e ex-candidato à presidência da República Tcheca. Durante entrevista ao UM BRASIL, conduzida pela jornalista Érica Fraga, o economista aponta o descompasso entre o tamanho do Estado e o crescimento da economia brasileira.
“Nas últimas seis ou sete décadas, o Estado se tornou cada vez maior e ficou com cada vez mais tarefas. Muitas das funções desempenhadas têm sido muito boas, mas o problema é que, de certo modo, o crescimento dos serviços oferecidos pelo Governo foi mais rápido do que o crescimento da economia. A economia ficou cada vez mais em débito. O País acumulou dívidas e está indo por um caminho insustentável”, afirma.
Švejnar destaca a importância do Estado, mas avalia ser necessário um equilíbrio. “É impossível termos uma economia de mercado operando sem nenhuma participação do Estado para prover a assistência necessária. Acho que o truque é encontrar a combinação adequada de modo que o Estado capacite, ajude, melhore o funcionamento da economia de mercado, mas não o obstrua. A questão é a quantidade e o tipo de intervenção adequada”, explica.
Ele também traz o lado positivo do cenário atual. “A boa notícia é que, diferentemente de outras economias, o setor bancário ainda aparenta estar em relativa boa forma, o Banco Central está seguindo políticas razoáveis e a inflação baixou nos últimos meses. Acho que, com uma escolha sensata de políticas e, é claro, com o cenário político ficando mais estável, o País pode ficar muito bem economicamente. No entanto, obviamente, questões relacionadas aos escândalos de corrupção e à situação política são relevantes”, aponta.
Falando em escala global, Švejnar ressalta que houve uma melhora nos padrões de vida, mas que não foi bem distribuída. “Com a globalização, vivemos muito mais em um mundo de fluxo, onde as coisas vão e vêm rapidamente. Para construir um sistema que seja estável para os cidadãos de determinado País, é obviamente muito mais difícil. Por outro lado, o mundo enriqueceu como resultado da globalização, o que é um aspecto positivo. O aspecto negativo é que os benefícios foram distribuídos de modo desigual. Em muitos países, a classe média, especialmente nos países ricos, sentiu-se – e em alguns casos não foi só um sentimento – com a renda estagnada, enquanto vê que os ricos estão muito bem”, conclui.
A entrevista integra a série que discute estratégias para o crescimento e o papel do Estado na economia, gravada em São Paulo e no Rio de Janeiro, em dezembro de 2016, em uma parceria da plataforma UM BRASIL com o Columbia Global Centers | Rio de Janeiro, braço da Universidade Columbia, de Nova York.
ENTREVISTADOS

CONTEÚDOS RELACIONADOS

Brasil encontra dificuldade para gerar receita acima dos gastos
Para Silvia Matos, do ‘Boletim Macro IBRE’, País está no negativo há mais de dez anos
ver em detalhes
Brasil e mundo vivem uma nova era geopolítica e tecnológica
De acordo com o cientista político Carlos Melo, a reorganização das forças globais deu origem a uma nova era “pós-Ocidente”
ver em detalhes
Na reforma do Estado brasileiro, foco deve estar no cidadão e no controle de gastos
Segundo Marcos Lisboa, ex-presidente do Insper, e Felipe Salto, sócio da Warren Investimentos, é preciso superar o modelo federativo, que se esgotou
ver em detalhes