Professores de Direito discutem protagonismo do Poder Judiciário
ENTREVISTADOS
“Quando temos uma sociedade que cria grandes heróis e grandes vilões, há algo errado com as instituições”, defende o professor da Faculdade de Direito da USP e ex-secretário da Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça, Pierpaolo Bottini. Ele e Beto Vasconcelos, professor da Escola de Direito da FGV-RJ e ex-secretário nacional de Justiça, falam ao UM BRASIL sobre o protagonismo do Poder Judiciário.
Na entrevista feita em parceria com a Fundação FHC, os advogados especialistas em combate à corrupção e lavagem de dinheiro afirmam que o protagonismo do Poder Judiciário não é um fenômeno recente, tampouco brasileiro.
“Trata-se de algo que acontece em vários países ocidentais. Em questões como aborto, união homoafetiva, demarcação de terras, percebemos que o Judiciário tem tido protagonismo, em parte, por causa de uma incapacidade do Poder Legislativo de resolver questões polêmicas e complexas”, defende Bottini.
Segundo ele, ambiguidades nas leis muitas vezes resultam em interferência. “Quanto mais aberta e imprecisa uma lei é, mais isso significa que o Poder Judiciário vai ter de tomar uma decisão”, diz. “Este é o século do Judiciário. É um fenômeno histórico e se dá também por uma perda de prestígio do Executivo e do Legislativo, bem como pela incapacidade de gerar respostas para a sociedade”, explica Vasconcelos.
“Antes, era um modelo de autocontenção, agora é ativismo judicial.” Para o ex-secretário Nacional de Justiça, pode-se observar esse fenômeno quanto ao sistema punitivo. “Não devemos ficar presos ao momento, mas entender que nas últimas décadas houve a construção do sistema internacional de proibição relacionado à lavagem de dinheiro e aos combates às organizações criminosas e à corrupção”, afirma.
Além disso, Bottini afirma que quando existem agentes do Estado que se colocam como grandes heróis ou grandes vilões, é possível perceber um “desfuncionamento” institucional que tem várias razões. “A partir do momento em que você tem um grande herói que começa a tomar decisões, por vezes exageradas, os tribunais teriam competência e atribuição para colocá-las de volta dentro da legalidade”, observa.
“Quando os tribunais começam a não fazer isso, o sistema tem uma disfuncionalidade. O ‘Fla-Flu’ que se criou no Brasil [quanto às discussões políticas] acaba colocando uma discussão irracional justamente sobre essa disfuncionalidade”, diz.
ENTREVISTADOS
CONTEÚDOS RELACIONADOS
Venezuela pode superar crise com uma transição pacífica de poder
Segundo o economista Rafael de la Cruz, as eleições no país ocorreram sem legitimidade e regime de Maduro é insustentável
ver em detalhesDesafios e oportunidades para o Brasil no mercado global
Segundo Luciano Menezes, CEO do World Trade Center Lisboa, empresas nacionais precisam se internacionalizar
ver em detalhesPor carências educacionais, países da América Latina perdem em produtividade
Economista-chefe para América Latina e do Caribe no Banco Mundial, William Maloney acredita que estamos vivendo um momento de reorganização das cadeias produtivas globais. Assista.
ver em detalhes