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Mídia não abre espaço para quem pensa de forma diferente

DEBATEDORES | Isabel Ferin

As redes sociais estão mudando o papel dos grandes veículos de comunicação e ganhando espaço como fonte de informação para pessoas que se sentem distantes das pautas, abordagens e perspectivas dos assuntos debatidos diariamente na televisão e no rádio. Essa é a avaliação da escritora e professora na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), Isabel Ferin.

Em entrevista ao UM BRASIL comandada por Humberto Dantas, realizada na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), a pensadora diz que cada vez mais somos uma sociedade ocidental racionalista, com academias racionalistas, mas de forma desconectada da realidade das pessoas.

“A maioria da população vive a sua vida privada cada vez mais associada a fenômenos de fé e não de razão. A vida do cotidiano tornou-se tão dura e tão árida que as pessoas encontraram na fé e nas emoções um espaço de conforto. E a rede social criou essa bolha do conforto”, ressalta.

Ela explica que o trabalho da mídia mainstream [veículos de comunicação tradicionais] na Europa se afasta dos grandes temas de interesse dos cidadãos europeus. Segundo ela, esses veículos passaram simultaneamente a ter fontes de informação associadas a grandes instituições de interesses organizados, de empresas, oligopólios etc, mas minimizaram as fontes que divergem do discurso padronizado. Assim, o contraditório deixa de existir e a informação é exclusivamente pautada por comentaristas. “Isso é o afastamento do cidadão comum, que se sente traído porque os grandes temas não são tratados de forma próxima da sua realidade”.

Na avaliação da professora, a polarização nas redes sociais é movimentada pela incapacidade de as mídias tradicionais acolherem de forma séria o interesse da população, de modo que esse corte atira grande parte dos cidadãos para as redes móveis. Essas redes, então, desempenham o papel de fonte de informação, e a consequência é que os meios mainstream ficam desacreditados em relação à sua capacidade de informar.

Como uma das soluções para o problema de representatividade da mídia, a escritora menciona o trabalho do jornalismo alternativo – feito por agências geralmente pequenas –, com foco na cidadania e nos problemas sociais, que não está necessariamente interessado em ter exclusividade de informações ou reportar uma notícia antes de outros veículos.

Educação sobre o uso das redes sociais

Ferin enfatiza que, a partir de 2016, surgiram alguns projetos na Europa sobre a educação do uso das redes sociais, inclusive sobre a regulamentação do acesso à internet, das condicionantes do acesso e da qualidade do acesso – não técnico, mas do conteúdo.

“Eu penso que nesse aspecto, apesar de existirem diretivas que são polêmicas, como as de direitos do autor que foram aprovadas na Comissão Europeia, e as diretivas sobre policiamento na internet relativamente ao terrorismo, há todo um conjunto de políticas que estão para ser adotadas na Europa e trabalhadas nas escolas com qualidade”, esclarece.

Ela conclui dizendo que o grande problema não é a educação das crianças, mas das famílias. Em sua avaliação, é necessário fazer transformações na sociedade para que as famílias tenham condições não só de educar as crianças, mas de estar presente em seu desenvolvimento. “Para tanto, uma importante mudança é acabar com jornadas de trabalho de 10, 12 ou 14 horas diárias, pois a escola, por si só, não supre e não vai suprir essas lacunas”, pontua a professora.

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