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Desfavorável atualmente, ciclo político deverá favorecer o Brasil em 2019, prevê Carlos Kawall

DEBATEDORES | Carlos Kawall

“Há uma tese, com a qual não concordo, de que a economia brasileira teria se descolado da política. Isso não é verdade, os mercados não descolam da política”, diz o economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall. Com passagem pelo BNDES, como diretor financeiro, e pelo Tesouro Nacional, como secretário, Kawall conversa com a jornalista Érica Fraga a convite do canal UM BRASIL sobre os rumos da economia nacional.

“O que temos hoje é um período de estabilidade política, com governabilidade e aprovação de reformas”, explica o economista. Segundo ele, há uma visão majoritária no mercado de que será eleito um presidente pró-reformas nas eleições do próximo ano.

“Se, em algum momento, a evolução do quadro eleitoral sugerir que esse não é o caso, haverá uma mudança no humor do mercado. A continuidade das reformas é crucial”, explica, sobre a relação entre economia e política. Em sua fala, Kawall observa também que, para o mercado financeiro, a economia brasileira já saiu da recessão.

“Tivemos dois trimestres neste ano, o primeiro e o segundo, com crescimento positivo, o que tecnicamente é considerado a saída de uma recessão”, justifica. “Imaginamos que o crescimento vá continuar ao longo do segundo semestre de 2017 e prevemos um Produto Interno Bruto (PIB) de 0,6% em 2017 ano e de 2,5% no ano que vem”.

Segundo ele, o resultado positivo será liderado, sobretudo, pela recuperação do consumo das famílias. Segundo o boletim Focus, divulgado pelo Banco Central (BC) no último dia 16 de outubro, os analistas preveem expansão do PIB de 0,72% neste ano. Para 2018, a projeção é de 2,5% de crescimento. “A palavra ‘moderada’ me parece a que caracteriza melhor o ritmo dessa recuperação”, afirma o entrevistado.

“De um lado, ainda temos um legado negativo do passado, o desemprego ainda é alto, as empresas estão bastante endividadas e o governo está fazendo uma política fiscal contracionista”, justifica. Ainda assim, segundo Kawall, o êxito na aprovação das reformas estruturais gerou condições financeiras favoráveis: por exemplo, a queda acentuada da taxa de juros, que cria um quadro também favorável para o mercado de capitais, uma vez que as empresas voltaram a emitir ações e títulos de renda fixa.

“O que garantirá que essa recuperação tenha uma velocidade razoável é justamente o êxito da combinação de uma política fiscal mais dura com reformas estruturais. Essa combinação gera uma rápida desinflação e uma queda da taxa de juros para níveis que vão chegar, no fim do ano, à mínima histórica de 7% ao ano”, afirma o economista. A previsão do relatório Focus do BC para a Selic também é de 7% ao ano – atualmente, a taxa está em 8,25%. Sobre a reforma da Previdência Social, ele afirma que, ainda que ela seja essencial, é preciso reconhecer outras conquistas do atual governo.

“Tivemos, ainda em 2016, a aprovação do teto dos gastos, da taxa de longo prazo que incidirá sobre os empréstimos do BNDES, e a histórica aprovação da Reforma Trabalhista que vai paulatinamente facilitar a flexibilidade no nosso mercado de trabalho e reduzir custos, além de outras agendas do plano microeconômico”, diz. Segundo ele, a Reforma da Previdência acabou prejudicada pela instabilidade política.

“Acho muito difícil que se aprove [a reforma] antes das eleições”, observa. “É evidente que sem a continuidade do esforço reformista em 2019, notadamente na área da Previdência e na área tributária, todo o esforço pode acabar se perdendo e podemos voltar à instabilidade que vivemos em 2015 e 2016.” “Se não conseguirmos fazer essa reforma [da Previdência] no mais tardar em 2020, fica claro que não há disposição política de fazê-la”, afirma.

Nesse caso, segundo ele, entraríamos numa desconfiança com relação à trajetória da dívida pública e à situação fiscal e estrutural do Brasil. “Os preços vão refletir isso. O ciclo político que hoje nos desfavorece, em 2019, deverá nos favorecer. Não há nenhum motivo para que a reforma não seja aprovada em 2019, a não ser que tenhamos um presidente da República contrário a ela”, conclui o entrevistado.

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