UM BRASIL UM BRASIL MENU conheça o um brasil
Voltar
ANTERIOR PRÓXIMO
 
Economia e Negócios

Varejo “com causas” e valorização do humano são fundamentais para os negócios que querem sobreviver

  • COMPARTILHAR
MÔNICA SODRÉ Entrevistador(a)
Publicado em: 6 de maio de 2022

ENTREVISTADOS

Apesar de ser um setor com grande demanda, a cadeia cacaueira enfrenta dois desafios que estão no núcleo das discussões sobre o que será o futuro dos negócios: a pressão causada pelas mudanças climáticas, além das condições justas de remuneração dos produtores – a “linha de frente” sem a qual não existe entrega.

“O estresse causado, seja pelo excesso de chuva, seja pela falta de água, tem gerado flutuações na produtividade anual do produtor, com reflexo direto no fator financeiro. Não tem como achar que nós não vamos pagar esta conta”, afirma Estevan Sartoreli, CEO e fundador da Dengo Chocolates. “[Por outro lado], pela perspectiva de um negócio, é preciso lembrar que não vai existir cacau de qualidade se não existir produtor, e para que possamos reter produtores no campo – que consigam sustentar suas famílias –, precisamos olhar pela ‘ótica’ da renda.”

Em entrevista ao UM BRASIL, uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Sartoreli explica que a Dengo Chocolates nasceu em 2017 com a missão de levar desenvolvimento aos pequenos produtores do sul da Bahia, por meio da geração de renda, adotando práticas de plantio que conservem as florestas e a boa qualidade das áreas produtivas, visando à restauração agrícola das áreas de plantação degradadas.

A cadeia cacaueira, conforme Sartoreli analisa, é altamente sensível a preços e focada em uma competição por custos, de forma que há uma necessidade de mudança, sobretudo de se entender que há externalidades inerentes à produção. “Precisamos incorporar as questões de saúde, de renda, de respeito ao meio ambiente e de custeio sobre o que consumimos”, enfatiza. “Não há nada melhor do que um negócio como agente de transformação socioambiental. Os negócios que não têm compromissos socioambientais ou com causas importantes em seu core  já estão morrendo. A geração que chega quer trabalhar com propósito.”

O CEO reforça que a atividade de produção de cacau no Brasil conta, atualmente, com cerca de 93 mil estabelecimentos, dos quais 69 mil estão localizados só na Bahia, e, apesar de ser uma atividade que encontre grande demanda, quase metade dos produtores tem renda mensal de meio salário mínimo. “Tudo isso para sustentar uma família com três ou quatro pessoas. Uma situação sensível de renda. A faixa etária média desses produtores é de 62 anos, e muitos deles nunca estiveram em uma sala de aula, ou tampouco têm o ensino primário incompleto. Este é o panorama de fundo da cadeia cacaueira no Brasil, e ainda não somos o pior cenário”, pondera.

Sartoreli frisa que, mesmo que três quartos do cacau do mundo sejam oriundos da África, os produtores de lá ganham US$ 0,56 centavos por dia, o que compreende apenas 40% da renda para a subsistência. “Na África, há 2,2 milhões de crianças envolvidas no trabalho infantil da cadeia cacaueira. Um produto que gera tanto prazer esconde uma mazela de cadeia dos pontos de vista social e ambiental.”

Sartoreli é membro do Comitê ESG da FecomercioSP.

ENTREVISTADOS

CONTEÚDOS RELACIONADOS

Sem categoria

Entre cliques e votos, cidadania no Brasil será cada vez mais digitalizada 

Na opinião de Manoel Fernandes, sócio da Bites, política e internet caminham lado a lado no País desde junho de 2013

ver em detalhes
Economia e Negócios

Questão climática: riscos e oportunidades para a agenda de negócios no Brasil 

Cada vez mais o impacto climático está afetando o mundo dos negócios. Por essa razão, a discussão acerca do tema deixa de ser “ideológica” e passa a entrar para a agenda das empresas no Brasil. É o que pensa Angela Pinhati, diretora de Sustentabilidade da Natura.  “Todos os empresários que têm o bom senso de […]

ver em detalhes
Economia e Negócios

Modernização do Estado é necessária para melhorar a qualidade dos serviços públicos 

Vera Monteiro, professora na FGV, acredita que a Reforma Administrativa precisa ser uma pauta permanente no Brasil

ver em detalhes

Quer mais embasamento nas suas discussões? Siga, compartilhe nossos cortes e participe do debate!

assine nossa newsletter

Qualidade jornalística 1X por semana no seu e-mail