Será preciso buscar soluções para amenizar a ausência dos Estados Unidos nos acordos climáticos
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- O mundo terá de buscar soluções para amenizar a ausência dos Estados Unidos, um dos maiores emissores do mundo, dos acordos climáticos pelos próximos quatro anos, avalia Sérgio Abranches, sociólogo, escritor e colunista político.
- O sociólogo defende que a transição energética deve ter uma abordagem descentralizada e que é preciso alcançar um modelo que gere impacto social positivo sobre os territórios.
- Abranches também vê a bioeconomia como uma oportunidade para alavancar a Indústria nacional e tirar o País do papel secundário no mercado global. Ele cita, como exemplo, a bem-sucedida bioindústria da Amazônia.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou, no início do ano, que o país se retirou do Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas. A decisão foi justificada pelo suposto impacto econômico do acordo e a necessidade de priorizar a produção de combustíveis fósseis.
O sociólogo Sérgio Abranches avalia que o mundo não conseguirá avançar na discussão climática com a saída dos Estados Unidos — um dos maiores poluidores do mundo — de um acordo global que prevê a redução das emissões.
“O país precisa ter uma contribuição importante, de liderança, na redução de emissões. Se ele não o faz, os outros usam isso como álibi para também não fazer”, afirma. “Isso significa que não conseguiremos avançar na questão climática até que o Trump saia do governo.”
Abranches acredita que, pelos próximos quatro anos, será preciso adotar estratégias para “mitigar” os efeitos da ausência americana dos acordos.
Em entrevista ao Canal UM BRASIL — uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) —, o sociólogo também fala sobre transição energética, bioeconomia e financiamento climático.
Transição energética
- Impactos sociais. O sociólogo defende que a transição energética deve ter uma abordagem descentralizada e que é preciso alcançar um modelo que gere impacto social positivo a territórios e comunidades — uma “transição social”.
- De cima para baixo. “Um plano macro feito em Brasília não vai funcionar nunca, porque Brasília não conhece o Brasil”, adverte Abranches. “É uma equação que só se resolve de baixo para cima. Não existe mais solução de cima para baixo”, afirma.
Bioeconomia
- Oportunidade. Abranches cita que bilhões de dólares giram em torno de produtos amazônicos — sobre os quais o País tem uma participação mínima. O sociólogo defende que esse modelo de bioeconomia seja “exportado” para outros biomas brasileiros.
- Solução. Na visão do sociólogo, as indústrias tradicionais brasileiras estão em declínio. Nessa situação, a bioindústria — derivada da bioeconomia —, que já é bem-sucedida na Amazônia, pode reverter esse problema.
- Novo papel. “Não queremos que o Brasil acabe sendo, no máximo, o receptor da indústria velha para continuar produzindo produto velho para os países avançados que querem ser limpos e novos“, lamenta. “Precisamos procurar soluções nossas. Temos muita coisa a oferecer.”
Financiamento climático
- Ilusão. Para Abranches, a ideia de que países ricos vão tirar montantes de seus orçamentos para financiamento climático nas nações mais pobres é ilusória. O sociólogo lembra que nações não atuam como instituições de filantropia, bem como ressalta que há um movimento em todo mundo de redução da capacidade fiscal dos governos.
- Ponto de vista. “Não existe Estado nacional bonzinho, assim como não há empresa que não vise ao lucro”, diz. “Eu pararia de militar por coisas impossíveis e começaria a pensar em militar pelas possíveis. Nós não vamos avançar tão cedo no impossível, a não ser na iminência de uma catástrofe climática que não dê tempo de reverter”, conclui.
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