Brasil precisa conquistar as soberanias tecnológica e digital
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EM POUCAS PALAVRAS...
O que você vai encontrar nesta entrevista?
- A jornalista Silvia Bassi defende que, se não quiser ficar para trás em relação ao resto do mundo, o Estado brasileiro precisa desenvolver as soberanias tecnológica e digital, cada vez mais estratégicas na geopolítica global.
- Silvia defende que, além do desenvolvimento de uma infraestrutura própria, o País deve estabelecer uma política de letramento digital. Ela também ressalta a importância da regulação da IA.
- “O Brasil pode ser um grande produtor de plataformas, de aplicações e de usos da IA, pedaços de software da ferramenta que sirvam para promover o uso da tecnologia e melhorar a vida das pessoas”, orienta.
Na era da Inteligência Artificial (IA), se não quiser ficar para trás em relação ao resto do mundo, o Estado brasileiro precisa desenvolver as soberanias tecnológica e digital, defende Silvia Bassi, jornalista especializada em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC).
Em entrevista ao Canal UM BRASIL — uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) —, Silvia defende que, além do desenvolvimento de uma infraestrutura própria, o País deve estabelecer uma política de letramento digital.
A especialista explica como a tecnologia tornou-se estratégica na geopolítica global e ressalta a importância da regulação da IA. Saiba mais a seguir.
Corrida tecnológica
- Momento único na história. Na opinião da jornalista, estamos vivendo o advento de três revoluções simultâneas. “A infraestrutura, o software e a biotecnologia são interdependentes. É um momento que tudo converge”, elenca. Silvia cita a importância da BioNTech durante a pandemia. A startup, que usou a IA para acelerar os testes da covid-19, foi fundamental para o desenvolvimento da vacina em apenas nove meses.
- Tecnologia é poder. A promoção de uma infraestrutura alinhada com esses novos tempos tornou-se estratégico na geopolítica mundial. “Grande parte dessas empresas está concentrada nos Estados Unidos. Mas, desde o fim do ano passado, começamos a ver o surgimento de algumas powerhouses chinesas. A China, em termos de corrida, está a par e passo com o país norte-americano. Há um jogo de forças”, observa Silvia.
Soberania tecnológica
- Brasil dá os primeiros passos. A jornalista lembra que o País ainda não produz modelos fundacionais, que são aqueles que servem como base para a construção de aplicações. “Estamos começando a exercitar uma IA brasileira, que é, digamos assim, uma tecnologia ‘aplicada’”, explica. “Hoje, temos grandes modelos de linguagem, os LLMs, que conseguem processar melhor em português, porque foram treinados nativamente. Isso é importante? É muito importante”, destaca.
- IA à brasileira. De acordo com Silvia, hoje a posse da rede tecnológica, sobre a qual roda um governo digital, depende de ferramentas que são de fora. Em outras palavras, há um risco. “Precisamos investir no desenvolvimento nacional. O Brasil pode ser um grande produtor de plataformas, de aplicações e de usos da IA, pedaços de software da ferramenta que sirvam para promover o uso da tecnologia e, assim, melhorar a vida das pessoas”, orienta a especialista.
- Letramento digital. Além de desenvolver a própria estrutura, um dos passos para conquistar a soberania nesse setor é capacitar a própria população, opina Silvia. “Se as pessoas não forem treinadas para usar essas plataformas agora, como é que elas terão emprego daqui a cinco anos? Estamos correndo o risco de ter uma população de ‘inempregáveis’?”, questiona.
Regulação da IA
- Debate cresce em todo o mundo. Enquanto as novas tecnologias e a IA se desenvolvem em um ritmo nunca antes visto, especialistas alertam para os perigos de pouca ou nenhuma regulação. “O Vale do Silício sempre teve um problema: faz primeiro, pede desculpas depois. É aquela história, não pede licença, pede desculpa. Só que, agora, um erro na IA é muito sério”, adverte.
- Discriminação algorítimica. A jornalista defende a regulação para coibir “vieses” na IA e impedir que a tecnologia aprofunde desigualdades. “É como o caso de Joy Buolamwini [cientista da computação e ativista digital canadense], que descobriu que as IAs não enxergavam pessoas negras, porque não tinham sido treinadas com fotos de pessoas negras”, alerta. “A IA é resultado de como ela é treinada. Não é só um viés de raça ou de gênero, existem inúmeros ‘vieses’. É preciso uma regulação que exija comportamento ético, que estabeleça regras de governança do uso”, enfatiza.
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