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Economia e Negócios

No Brasil de eleições diretas, inflação controlada é sucesso político

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Humberto Dantas Entrevistador(a)
Publicado em: 4 de fevereiro de 2022

ENTREVISTADOS

Quando pensa-se vencida, ela ressurge das cinzas. A inflação foi um dos principais problemas econômicos do Brasil em 2021, situação que não é novidade para um país que, ao longo de sua história, enfrentou diversos períodos de alta contínua dos preços. Contudo, somente a partir da Nova República, quando a população passou a votar diretamente para presidente, o que era até então convivência cedeu lugar para medidas contundentes de combate à inflação, de acordo com o economista Heron do Carmo.

Em entrevista ao UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP, Carmo, reconhecido como um dos maiores especialistas em inflação do País, diz que, historicamente, o Brasil se acostumou com índices inflacionários superiores à média mundial. No decorrer do século 20, inclusive, diversos governos optaram por mecanismos que permitiam conviver com a alta dos preços, em vez de freá-la.

“No Brasil, já no Império, havia uma inflação mais alta. Teve também, nas várias fases da República, uma inflação acima da [média] do resto do mundo. E, a partir da Segunda Guerra Mundial, vivemos um processo inflacionário com algumas pequenas interrupções”, resume o economista, membro do Conselho de Economia Empresarial e Política (CEEP) da FecomercioSP e professor sênior da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP).

“Acontece que, no Brasil, o objetivo da política econômica não era controlar a inflação, no sentido de reduzi-la. Era controlar no sentido de que não tivesse uma tendência persistente de alta muito rápida. Então, foram adotadas aqui políticas gradualistas”, acrescenta.

De acordo com Carmo, a manutenção do poder de compra da moeda ganha outros contornos quando a classe política percebe que é uma “questão importante do ponto de vista do eleitorado”. Deste modo, inflação controlada se tornou elemento fundamental para o sucesso da política econômica.

“O [então] futuro presidente Fernando Henrique Cardoso saiu de suplente do Senado e chegou aonde chegou [com o Plano Real]. O presidente [José] Sarney, que era desconhecido do eleitor, se consagrou na Assembleia Constituinte [de 1987]. O [Fernando] Collor acabou sendo eleito numa situação de inflação descontrolada. A reeleição do presidente Lula ocorreu como consequência não só do crescimento, mas de uma inflação baixa”, cita o economista. “Então, inflação e atividade econômica são fundamentais para o desempenho político”, pontua.

Em períodos de inflação alta, Carmo salienta que o mais importante é a perspectiva da trajetória do nível de preços. Sendo assim, “a política econômica tem de ser apertada para não permitir que se repita a dose no período seguinte”, do contrário, “entra-se num processo difícil de reverter”.

Além disso, o especialista reforça que o estrato mais pobre da população é o mais penalizado pela alta contínua dos preços.

“Ouso afirmar que uma parte da resistência da desigualdade na sociedade brasileira se deve também ao comportamento da inflação. O País cresceu muito durante um tempo, mas sem que aquilo se refletisse numa redução mais expressiva da desigualdade, em parte justamente devido ao fenômeno inflacionário”, destaca o economista.

Assista à entrevista na íntegra e se inscreva no Canal UM BRASIL!

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