UM BRASIL UM BRASIL MENU conheça o um brasil
Voltar
ANTERIOR PRÓXIMO
 
Internacional

Mundo multipolar, instável e com valores em disputa é ambiente convidativo para conflito entre potências

  • COMPARTILHAR
Publicado em: 17 de junho de 2022

ENTREVISTADOS

MEDIAÇÃO

Jaime Spitzcovsky

O mundo do século 21 é multipolar, instável e com disputas entre valores heterogêneos. Mesmo sendo um cenário complicado, o que garante que as grandes nações não terminem em um enfrentamento completo são os elementos de dissuasão nas esferas militar, nuclear e econômica. Estes elementos fazem com que os países percebam que têm mais a perder do que a ganhar no enfrentamento, defende Fernanda Magnotta, coordenadora do curso de Relações Internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), em entrevista ao Canal UM BRASIL – uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).

“Contudo, isso não significa que o mundo esteja ‘garantido’, ou que não passe mais por grandes crises. Só significa que as crises irão mudar a sua configuração em relação ao que já estamos acostumados. As características deste século são tão distintas que nos permitem pensar em um outro tipo de enfrentamento dos conflitos. Tenho visto a [invasão da] Ucrânia como uma manifestação de como os conflitos deste novo mundo se estabelecem”, pondera.

Fernanda explica que, mesmo sem incentivo para se enfrentarem, e ainda que os elementos de dissuasão impeçam que estes países se envolvam em um conflito mundial ainda maior do que ocorre atualmente entre Rússia e Ucrânia – ao menos da forma como se costuma pensar a “guerra” –, isso não impede pequenas guerras no mundo todo, “conflitos que criam ondas de refugiados, desumanidade, violência tremenda e todo o horror que provocam”.

“É uma resposta muito paradoxal. O mundo que descrevemos ‘multipolar e heterogêneo’ é muito inseguro, mas isso não intuitivamente leva a uma guerra generalizada. No lugar disso, leva a várias guerras menores, que, talvez, deixem este todo muito mais pavoroso do que esperaríamos de uma guerra mundial”, afirma Fernanda.

Quanto à multipolaridade, Fernanda avalia que apesar de ser democrática ao dar voz a mais países e não estabelecer uma hegemonia predominante entre nações, ainda é considerada, de forma consolidada, na literatura de Relações Internacionais, a forma de organização e distribuição de poder mais instável. “É um modelo com três ou mais potências, mais ou menos do mesmo porte, mas que nenhuma é mais forte o suficiente para se impor sobre as demais. No entanto, na prática, todas querem se sobrepor entre si para estabelecer o modelo hegemônico mais conveniente.”

“Esta busca de hegemonia cria ambiente para muita tensão e para o enfrentamento concreto. Os momentos de maior conflito, inclusive das guerras mundiais, foram períodos em que se prevalecia a multipolaridade – que é o ambiente mais convidativo ao enfrentamento entre potências. O mundo está cada vez mais propenso a não ter a bipolaridade entre Estados Unidos e China, mas ser tripolar ou multipolar, em que não se menospreze a relevância da Rússia e da Europa – que, agora, não é mais pensada de maneira fragmentada, mas enquanto bloco”, ressalta.

Por fim, além das disputas de poder e de capacidades nas esferas militar, nuclear e econômica, há ainda a convivência com interpretações de realidade muito distintas, sobretudo em relação à democracia e à organização política do Estado.

“Temos claramente, de um lado, o olhar tradicional da democracia liberal no Ocidente, e, do outro, uma contestação disso como sendo a única forma de organização possível. Uma reunião recente das lideranças da Rússia e da China gerou um documento histórico em que ambas as nações enfatizaram que democracia é um conceito flexível, com várias interpretações. O capítulo agravante da história da multipolaridade é que nela ainda prevalecem valores, visões de mundo e crenças em disputa sobre qual a melhor forma de organizar a vida política e se garantir a legitimidade de interesses”, conclui.

Crédito da foto: FAAP

ENTREVISTADOS

CONTEÚDOS RELACIONADOS

Economia e Negócios

Brasil encontra dificuldade para gerar receita acima dos gastos 

Para Silvia Matos, do ‘Boletim Macro IBRE’, País está no negativo há mais de dez anos

ver em detalhes
Internacional

Brasil e mundo vivem uma nova era geopolítica e tecnológica 

De acordo com o cientista político Carlos Melo, a reorganização das forças globais deu origem a uma nova era “pós-Ocidente”

ver em detalhes
Economia e Negócios

Na reforma do Estado brasileiro, foco deve estar no cidadão e no controle de gastos 

Segundo Marcos Lisboa, ex-presidente do Insper, e Felipe Salto, sócio da Warren Investimentos, é preciso superar o modelo federativo, que se esgotou

ver em detalhes

Quer mais embasamento nas suas discussões? Siga, compartilhe nossos cortes e participe do debate!

Acompanhe nossos posts no LinkedIn e fique por dentro
das ideias que estão moldando o debate público.