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Devastação da Amazônia é fruto de modelo que vê riqueza na destruição da natureza

DEBATEDORES | Ricardo Abramovay

O robusto crescimento econômico mundial observado a partir da segunda metade do século 20 tem como pano de fundo filosofias que consideram o homem o dominador da natureza, de modo que, sobretudo em países dotados de florestas tropicais, aceita-se a destruição de recursos naturais em nome da produção de riqueza. Não à toa, na ausência de um sistema alternativo, a Amazônia definha sob um modelo econômico fundamentado na devastação do meio ambiente.

Isso é o que diz Ricardo Abramovay, professor sênior do Programa de Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE/USP), em entrevista ao UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP.

Na avaliação do especialista, o principal desafio do País, no que diz respeito à Amazônia, é saber como se beneficiar das riquezas naturais do bioma, valorizando, ao mesmo tempo, as culturas material e espiritual dos povos da floresta, o que só será possível caso a agropecuária adote técnicas regenerativas em seu processo produtivo.

Sendo assim, o professor defende um modelo chamado de “economia do conhecimento da natureza”.

“A economia do conhecimento da natureza é justamente se opor ao processo de destruição e fazer emergir um modelo econômico que recomponha a floresta e que, por meio disso, garanta às 40 milhões de pessoas que vivem na Amazônia – 30 milhões em território nacional – condições de vida que façam com que elas se orgulhem de serem detentoras da mais importante riqueza que dispõe o planeta”, pontua.

Referência em bioeconomia, desenvolvimento sustentável e impactos da revolução digital na sociedade, Abramovay destaca que, enquanto o mundo tem revisado a forma que extrai e utiliza recursos naturais, o Brasil tem ficado para trás neste assunto.

“No caso brasileiro – e particularmente no que se refere à Amazônia –, estamos acumulando um atraso em relação a estes avanços que estão se produzindo internacionalmente, o que é espantoso e profundamente ameaçador”, alerta.

Além disso, o economista reforça que “o processo de crescimento econômico da Amazônia se caracterizou fundamentalmente por destruição”. Isso ocorre porque “a ideia de que a eliminação da floresta traz riqueza é muito atraente e imediata”.

“A verdade é que nós desenvolvemos muito mais a visão a respeito do que fazer quando a floresta não existir mais do que a visão sobre o que fazer com a floresta”, resume.

Ademais, o professor ressalta que o desmatamento do bioma é realizado sob a justificativa equivocada de que o Brasil deveria povoar a região, como forma de evitar que nações estrangeiras invadam e reivindiquem soberania do território.

“Os modos de vida das populações que vivem na floresta correspondem a uma cultura material e espiritual da qual o Brasil deveria se orgulhar. São mais de cem línguas faladas por povos indígenas”, ressalta. “São modos de vida que seriam um crime permitir, como está sendo permitido hoje na invasão garimpeira aos territórios ianomâmi, que sejam destruídos. É genocídio e etnocídio. Essa é uma riqueza da qual o Brasil não pode dizer simplesmente ‘prefiro produzir soja e carne’”, salienta.

Assista à entrevista na íntegra e se inscreva no Canal UM BRASIL!

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