Medo de pôr a reputação em xeque é o que dita a pauta social no sistema financeiro
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									A cobrança por empresas ambientalmente responsáveis, com quadros funcionais mais diversos e geridas com transparência e eficácia – pauta condensada na sigla ESG (em português, “ambiental, social e de governança”) – já produz efeitos no mundo corporativo. Contudo, os reais motivos para revisar os modelos de negócio, sobretudo no que diz respeito à inclusão social, ainda não foram assimilados corretamente pelo sistema financeiro, setor responsável por impulsionar os investimentos na economia, de acordo com Luana Ozemela, fundadora e CEO da DIMA Consult, empresa especializada em desenvolvimentos econômico e social baseada no Catar.
Em entrevista ao UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP, Luana destaca que, apesar de o sistema financeiro ter avançado “muito nas questões de sustentabilidade”, a pauta social, que pressupõe mais espaço para a participação de mulheres, pessoas negras e membros da comunidade LGBTQIA+ no mercado de trabalho, é movida mais pelo risco de pôr a reputação em xeque ao negligenciar o tema do que pelos benefícios na criação de ambientes heterogêneos.
“As interpretações do que são sustentabilidade e ESG não estão uniformes. Então, cada um abraça o que é mais fácil de fazer, o que pode dar mais visibilidade. E realmente um dos temas que fica mais relegado, mais aquém, é o ‘S’ do ESG – o tema social, de diversidade, equidade, inclusão e pertencimento. São todas estas palavras, não é só diversidade”, explica Luana.
Na entrevista, que faz parte da série UM BRASIL e BRASA EuroLeads – um novo olhar sobre o Brasil, com apoio da Revista Problemas Brasileiros (PB), a executiva salienta que ainda é comum, no ambiente corporativo, as ações de inclusão se limitarem a decisões como o de ter uma mulher na mesa da diretoria ou recrutar estagiários negros, sem levar em conta as reais vantagens econômicas de espaços plurais.
“Meu receio é que o nosso mercado financeiro foque muito [mais] na visibilidade que o tema está trazendo do que nas mudanças estruturais e nos benefícios de incorporar a diversidade”, ressalta.
Doutora em Economia com passagem pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luana também atua pelo empoderamento econômico da população negra. Ela conta que fundos de investimentos destinados a empresas lideradas por pessoas negras são vistos, equivocadamente, como filantropia no mercado financeiro.
“Ainda hoje, quando vamos fazer o pitch do fundo para outros investidores institucionais, ainda assim é visto como um fundo filantrópico, um fundo em que eles estão dispostos a perder dinheiro. Não é esta a ideia que queremos passar”, explica Luana. “[O objetivo] é realmente mostrar para o mercado financeiro que é possível ter rentabilidade investindo em empreendedores diversos”, acrescenta.
Racismo corporativo
A CEO da DIMA afirma que, no círculo empresarial, pessoas negras em posição de liderança costumam ser vítimas do racismo pelo “desconto da expectativa do seu sucesso”.
“Quando alguém sofre na pele o racismo, a discriminação, o preconceito, o simples fato de eu entrar em uma sala, numa reunião de board [diretoria], para apresentar um empréstimo de [US$] 70 milhões para um banco interamericano, no qual 99% das pessoas são brancas – entre homens e mulheres –, já é uma forma de ativismo. Eu não preciso falar nada”, declara.
“Então, a surpresa é o desconto da expectativa. A cor e o gênero impõem esse desconto do seu capital humano. Esta surpresa é o racismo mais perverso”, afirma Luana.
Assista à entrevista na íntegra e se inscreva no Canal UM BRASIL!
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