Fim do financiamento privado de campanhas muda perfil de eleitos
ENTREVISTADOS
Após uma mudança radical no modo como as campanhas eleitorais são financiadas no Brasil, esse sistema ainda carrega diversos dilemas quanto à redução das disparidades em torno das candidaturas, quanto à mudança do perfil dos candidatos e também no que se refere à transparência em torno da movimentação de dinheiro nas campanhas.
Em 2015, o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu o financiamento eleitoral oriundo de fontes privadas, o que pôs fim à relação dos partidos com empresas doadoras, inclusive com as grandes corporações responsáveis pela entrada de milhões de reais na disputa.
Em conversa no canal UM BRASIL, o professor da Fundação Getulio Vargas e coordenador do Centro de Política e Economia do Setor Público (Cepesp), da mesma instituição, George Avelino, e o professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT) Daniel Hidalgo repercutem o estudo “O poder do dinheiro nas campanhas eleitorais”, produzido pela FGV e pela Fundação Brava.
Avelino explica que a competição em nosso sistema eleitoral é muito restrita, mas a mudança no modo como as campanhas são financiadas trouxe uma melhora nesse aspecto, uma vez que a influência do dinheiro de origem privada não tem sido mais tão decisiva. Para ele, os candidatos homens, brancos, com mais educação formal e facilidade de acesso a recursos de empresas foram os que mais perderam com isso. Ele enfatiza que, até então, esses eram os elementos que facilitavam o acesso a esses recursos privados.
Sobre a participação das mulheres após essa mudança no STF, ele explica que a mudança na legislação eleitoral teve um efeito positivo em reduzir a diferença no porcentual de candidatos homens e mulheres. “De um modo geral, eu diria que uma mulher, hoje, tem mais chances de se eleger do que no passado. Considerando a disponibilidade de recursos, a competição é mais equilibrada, mas ainda há uma enorme desigualdade quanto à participação de mulheres no pleito”, explica.
Já Hidalgo pontua que essa mudança no financiamento trouxe um equilíbrio muito importante para a democracia brasileira, pois, no sistema anterior, boa parte dos recursos se concentrava nas mãos de poucos atores. Ele diz que essas questões de como o dinheiro público é distribuído aos candidatos e de como essa decisão é tomada dentro dos partidos são importantíssimas para o debate.
“Atualmente, não há muita transparência na maneira como os líderes dos partidos decidem a quantia que cada candidato recebe. Dado que hoje em dia grande parte desse dinheiro vem dos eleitores, a transparência na tomada de decisões é essencial tanto para os candidatos quanto para os eleitores”, pondera.
Essa entrevista foi destaque nesta sexta-feira (21) na Folha de S.Paulo. Veja aqui.
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