Distorções na economia foram criadas pela manutenção da escravidão
ENTREVISTADOS
MEDIAÇÃO
As distorções na economia brasileira foram criadas a partir do momento em que a escravidão foi mantida em detrimento do capitalismo. A análise, feita pelo jornalista e escritor Jorge Caldeira ao UM BRASIL, mostra que, na época do período colonial, o País tinha uma economia quase do mesmo tamanho que a dos Estados Unidos e que a situação mudou no fim do século 20, quando a economia brasileira ficou 15 vezes menor que a americana.
Na conversa com Thais Herédia, Caldeira explica que essa estagnação foi reflexo da chegada do capitalismo em diversos países do ocidente, o que causou uma forte aceleração nessas economias. Essa mudança atingiu o Brasil – à época, com exportação, índice populacional e mercado interno parecidos com dos EUA.
“O Brasil ficou fora disso porque quis manter a escravidão, e não só por uma questão da manutenção da propriedade de um homem sobre o outro. A escravidão era a base do sistema legal, o título de propriedade do escravo era o título jurídico mais aceito como garantia no mercado financeiro. Então, todo o sistema legal e a organização institucional tinha que ser adequada a essa situação”, explica.
O autor de História da riqueza no Brasil — cinco séculos de pessoas, costumes e governos (ed. Estação Brasil) diz que, durante o século 19, o País tinha uma produção decadente e cada vez menos escravista, mas mantinha as mesmas instituições. O cenário levou à substituição de escravos por trabalho compulsório menos organizado e criou uma taxa de câmbio desfavorável para o Nordeste, empobrecendo a região. Antes do nascimento dessa desigualdade, o Nordeste era mais rico que o Sul do País.
Essas observações integram a obra que faz uma análise da história econômica nacional por meio da antropologia e da econometria, o que, segundo Caldeira, permitiu um novo olhar sobre os acontecimentos.
“O que esses novos instrumentos de medida permitiram identificar é outro tipo de história econômica. A produção brasileira, ao contrário do que imaginava o modelo clássico, foi feita por pequenos empreendedores. A estrutura básica que produziu a riqueza no Brasil foi formada pelo pequeno empreendedor individual, autônomo, grupo quase familiar”, complementa.
ENTREVISTADOS

CONTEÚDOS RELACIONADOS

Brasil encontra dificuldade para gerar receita acima dos gastos
Para Silvia Matos, do ‘Boletim Macro IBRE’, País está no negativo há mais de dez anos
ver em detalhes
Brasil e mundo vivem uma nova era geopolítica e tecnológica
De acordo com o cientista político Carlos Melo, a reorganização das forças globais deu origem a uma nova era “pós-Ocidente”
ver em detalhes
Na reforma do Estado brasileiro, foco deve estar no cidadão e no controle de gastos
Segundo Marcos Lisboa, ex-presidente do Insper, e Felipe Salto, sócio da Warren Investimentos, é preciso superar o modelo federativo, que se esgotou
ver em detalhes