Há razões para otimismo econômico no País, mas precisamos acelerar a produtividade e repensar modelos de educação, defende Helio Zylberstajn, professor sênior da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP).
Desde o segundo trimestre deste ano, a taxa de desemprego está abaixo dos 7%, o menor patamar da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para que o País siga nessa tendência e passe a gerar mais empregos formais, o professor defende a diversificação das áreas produtivas e investimentos em profissionalização técnica.
Em entrevista ao Canal UM BRASIL — uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) —, Zylberstajn analisa o mercado de trabalho, as oportunidades para geração de riquezas e os efeitos da Reforma da Previdência.
O futuro do mercado de trabalho
- Boas perspectivas. Apesar das estatísticas que indicam a maior alta nos números de brasileiros ocupados desde 2014, Zylberstajn acredita que há potencial para se avançar muito mais. “Existe um enorme espaço de crescimento no Brasil. Temos tanto a fazer. A infraestrutura, a transição energética, todas essas coisas representam espaços econômicos a serem ocupados, portanto, emprego”, avalia.
- Emprego formal. Hoje, um profissional que se declara “ocupado” não necessariamente tem o tão sonhado carimbo na carteira de trabalho. Cerca de dois terços dos trabalhadores brasileiros estão em postos precarizados, com baixos salários e alta rotatividade. Para o professor da FEA-USP, o desenvolvimento de setores tecnológicos seria capaz de impulsionar a geração de mais vagas formais.
- Renda e produtividade. Mesmo com mais de 100 milhões de brasileiros inseridos no mercado, e uma renda anual laboral chegando a cerca de R$ 4 trilhões ao ano, Zylberstajn avalia que ainda temos um “copo meio vazio”. “O nosso PIB está batendo R$ 11 trilhões. A participação do trabalho na renda total do Brasil é algo entre 35% e 40%. Nos países desenvolvidos, é 60%. Como fazer a participação do trabalho na renda do País pular dos 40% para 60%? Com produtividade”, conclui.
O gargalo educacional
- O nó da qualificação. Segundo o professor, o desenvolvimento econômico passa pela resolução de gargalos na educação e na profissionalização. “Para mais produtividade, precisamos de investimento, crescimento e inovação tecnológica”, defende. “E a inovação necessita de mão de obra preparada para as novas vagas que cria. E esse é o grande problema, o grande nó”, afirma Zylberstajn.
- Modelo de ensino. A origem do problema da qualificação está no modelo de educação adotado no País. “Nosso ensino médio é, por razões históricas, eminentemente acadêmico. O horizonte é preparar o aluno para a universidade, que é vista como um meio de ascensão social. Precisamos inverter essa chave”, ressalta.
- Ensino técnico. Dados do Ministério da Educação (MEC) mostram que o número de estudantes no Ensino Profissional e Tecnológico (EPT) cresceu 12,1% entre 2022 e 2023, chegando a 2,4 milhões de alunos. Mas ainda estamos entre os países com menor porcentual de matriculados na educação profissional, aponta a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A taxa de alunos brasileiros é de 11%, enquanto a média das nações do grupo é de 44%.
- Novo modelo de ensino. Zylberstajn defende a superação da visão de que os empregos técnicos sejam secundários. “É preciso tornar o ensino médio, acima de tudo,profissionalizante. A escola média precisa trabalhar, junto com o setor produtivo, para formar profissionais”, afirma. “A reforma do ensino médio, finalmente aprovada e consolidada no Congresso, nos encaminha para isso”, conclui.
A origem da questão fiscal
- Um Brasil que envelhece. Desde 2023, a faixa etária de 15 a 24 anos se tornou a menor do País. Enquanto isso, o número de brasileiros com mais de 60 anos segue crescendo rapidamente — e, de acordo com o IBGE, até 2070, deve representar 37,8% da população. Frente às projeções demográficas, o Brasil deve lidar com novos desafios.
- Gastos previdenciários. Zylberstajn ainda destaca que o problema fiscal no País tem nome: Previdência Social. Ele explica que, apesar de estar envelhecendo rapidamente, o Brasil é ainda uma nação jovem que já gasta 12%, 13% do Produto Interno Bruto (PIB) com benefícios de aposentadoria. “Isso é o que a Alemanha e os países nórdicos gastam, que são países envelhecidos e desenvolvidos”, argumenta.
- Mudanças estruturais. Embora avalie que a Reforma da Previdência tenha sido boa, o professor da FEA-USP também acredita que se revelou uma “meia-sola”. “Essa reforma esticou um pouquinho o tempo de contribuição e adiou a idade de aposentadoria. Mas isso não é suficiente”, frisa. “Precisamos de uma reforma estrutural que dê conta de duas questões: o envelhecimento da população e a transformação do mercado de trabalho”, finaliza.