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Brasil saberá acompanhar a transformação no turismo global?

DEBATEDORES | Mariana Aldrigui

Diante da queda significativa no Turismo internacional de negócios, em que muitas pessoas já não têm mais razão para vir a trabalho ao Brasil por causa da tecnologia, resta ao País compreender como conquistar um turista de lazer que se planeja mais e que é, a todo momento, “bombardeado” com propaganda de países concorrentes. E é justamente na forma como se apresenta para competir que o Brasil ainda falha. “Posicionar-se como destino aos estrangeiros é um desafio muito mais complexo do que foi há cinco ou dez anos”, adverte Mariana Aldrigui, professora e pesquisadora na área de Turismo Urbano da Universidade de São Paulo (USP).

A tarefa do Brasil, hoje, é se consolidar como uma nação mais acolhedora socialmente, com mais diversidade e respeito ao meio ambiente — características valorizadas por um turista estrangeiro muito mais informado. Para tanto, é essencial que se entenda como a promoção da imagem de um destino se estabelece na mente do turista, independentemente de as informações serem advindas de influenciadores digitais ou da mídia.

“O que não funciona mais são campanhas puramente de promoção. Já deixamos, no passado, as imagens estáticas de um monumento ou de uma praia linda. Então, é muito importante comunicar, por exemplo, que se trata de um país onde haja espaço para a diversidade, que o viajante conseguirá tranquilamente se hospedar em determinado lugar, caminhar até um ponto de interesse, fazer as refeições da forma como gostaria e interagir com as pessoas e os espaços”, esclarece.

Investimentos no Brasil

Em entrevista ao Canal UM BRASIL — uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) — Mariana pontua que, pela dificuldade de lidar com “labirintos” tributário e jurídico, operar voos no Brasil não é somente caro, mas um desafio para as empresas aéreas de baixo custo. Diante disso, atrair essas companhias é um desafio para o País, sobretudo tendo em vista a quantidade limitada de aviões que têm, o que as leva a escolher mercados com regulação mais simplificada.

Perspectivas para o turismo no mundo

A pesquisadora ainda reforça duas transformações que têm ocorrido no setor e que apontam para novas direções que demandarão muita atenção do Brasil: a presença da Inteligência Artificial (IA) e uma mudança estrutural no turismo mundial.

Apesar de a IA já estar integrada no dia a dia das companhias do setor, as ferramentas generativas devem ganhar mais espaço a partir do uso individual de chats e plataformas para recomendações que, hoje, são feitas por pessoas. “Isso assusta um pouco e é algo que pode substituir [parte da] mão de obra. O desafio para todo o setor é identificar qual o profissional que ele vai querer trabalhando para ler as questões de IA, assim como para preservar o toque humano. O turismo não vai abrir mão disso para ter todas as experiências intermediadas por robôs”, reforça Mariana.

Já uma mudança ainda mais profunda ocorre com o eixo turístico global saindo do meio europeu em direção ao Oriente Médio. Isso ocorre com muito dinheiro, muita tecnologia e muito luxo, esclarece. “Os investimentos que Emirados Árabes, Arábia Saudita, Qatar e toda as empresas ali posicionadas fazem para que aquele seja o centro do turismo do mundo, naturalmente, vai nos afetar, para o bem e para o mal. Lá, é com muita artificialidade, e, aqui, a gente segue como uma exuberância natural. O que a gente vai fazer para dizer que o autêntico e o natural estão aqui?”, questiona.

Mulheres na liderança

Em um panorama da equidade de gênero no Turismo nacional, Mariana enfatiza que as mulheres não estão em posições estratégicas de chefia e tomada de decisão no setor. Ela esclarece que a presença feminina se concentra majoritariamente em funções como cozinha, hotelaria e atendimento ao cliente em eventos — tendo em vista as características das funções. Contudo, quando se analisam as funções de gerência para cima, o setor vai se “masculinizando”.

“Esse retrato mostra sempre homens brancos, sempre os mesmos profissionais falando as mesmas coisas e repetindo as mesmas ideias. Há pouquíssima diversidade de ideias”, adverte. “Houve uma tentativa de se dar mais diversidade ao setor durante os anos de pandemia, e isso foi bem-sucedido, mas as evidências de lá para cá são de retrocesso. Mesmo com muita voz, as mulheres não conseguem quebrar essa barreira e ocupar as posições de liderança. Isso ocorre não por falta de competência, mas por um senso de proteção por quem, hoje, ocupa tais espaços”, conclui.

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