Avanços tecnológicos exigem novo modelo escolar
ENTREVISTADOS
Embora o sistema educacional atual ainda não tenha se adaptado às exigências do século 21, não pode ser exclusivamente culpado por um país ter resultados ruins em exames de educação. Há diversas questões sociais que, se resolvidas, contribuiriam para elevar o nível educacional. É o que diz o professor da Escola de Educação de Harvard e fundador do Center For Curriculum Redesign, Charles Fadel.
“O problema não pode ser somente direcionado à educação. Para ser justo, há muitos problemas sociais que precisam ser resolvidos. Questões de equidade e de população negligenciada, entre outas coisas”, ressalta o professor, que também é presidente do Comitê de Educação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). “É preciso lembrar que a educação é parte do problema, não o problema inteiro. Toda vez que pensamos nessas coisas, temos que aceitar que há outras soluções que podem ser políticas, sociais etc. E não colocar todo o peso nas costas da educação”, completa.
Em entrevista para o UM BRASIL, realizada em parceria com a Somos Educação, Fadel comenta que o modelo escolar atual é bastante semelhante ao criado na Revolução Industrial. Contudo, as inovações tecnológicas estão ocorrendo em uma velocidade nunca antes vista. Com isso, o ensino tradicional não acompanha às demandas da atualidade. Além disso, falha ao não preparar os jovens para as profissões do futuro.
“Ensinamos matérias e assuntos que pertencem aos séculos 19 e 20, enquanto que, neste século, deveríamos ensinar, por exemplo, tecnologia e engenharia, ciências sociais, como psicologia, sociologia e antropologia. O que é ensinado é parcialmente relevante. Precisamos nos guiar pelas oportunidades, e não pela oferta de empregos de hoje, pois não sabemos onde eles estarão no futuro”, salienta.
Fadel reconhece que os desafios da atualidade para o sistema de ensino são grandes, principalmente porque, quando uma tecnologia ganha uso social, outras já estão surgindo. Nesse sentido, ele diz que as pessoas devem desenvolver a meta-aprendizagem, que é a habilidade de se adaptar e refletir constantemente.
“Nós tivemos mais de 100 anos para nos adaptar à Revolução Industrial. Nós fomos de não ter escolas para ter escolas de massa, nós inventamos esse modelo. E isso deu certo por 150 anos, nem sempre de forma perfeita, mas razoável. E, agora, nós temos que achar um outro modelo porque a disrupção está acontecendo muito rapidamente”, reitera.
ENTREVISTADOS

CONTEÚDOS RELACIONADOS

Cuidar da primeira infância é o caminho para desenvolver o País
Segundo a médica Vera Cordeiro, do Instituto Dara, combater desigualdades passa por garantir atenção, dignidade e direitos às crianças
ver em detalhes
Brasil precisa renovar a agenda do debate público
Para o cientista político Fernando Schüler, o País precisa abandonar polarização e focar em questões mais relevantes
ver em detalhes
Desafios da geopolítica mundial: democracia, eleições e comércio
Para Christopher Garman, crescem figuras políticas com discurso antissistema e anti-imigração na Europa, nos Estados Unidos e na América Latina
ver em detalhes