A diretora global de Educação do Banco Mundial, Claudia Costin, acredita que a formação escolar é a estratégia básica para o avanço econômico das nações em desenvolvimento e a erradicação da pobreza. Durante entrevista realizada pelo UM BRASIL, a especialista diz que o mundo vive uma crise no setor.
“A educação, se não for bem trabalhada com política pública, aumenta a desigualdade e não a diminui. Quando abordarmos a política educacional, há um raciocínio muito tentador, que é de se investir apenas nos mais brilhantes entre os mais desfavorecidos. Se fizermos isso e não pensarmos que toda criança tem que aprender, estaremos desperdiçando potencial e desrespeitando um direito básico da pessoa”, explica.
Para Claudia, o processo de ensino precisa ser adaptado e o desafio é o de sair da dinâmica de massa fabril de tratar todos da mesma maneira. “O professor escreve no quadro e todos os alunos copiam, independentemente das habilidades e talentos de cada um. Hoje, com as novas tecnologias, o profissional está preparado para atuar muito mais como facilitador no processo de aprendizagem, e não como um mero fornecedor de conteúdo”, diz.
Atualmente, há 250 milhões de crianças que, apesar de terem passado alguns anos na escola, não sabem ler nem escrever ou fazer operações básicas de matemática. Para se ter uma ideia, na China há 8% de jovens de 15 anos com aprendizagem baixa. No Brasil, são 65%. Além da pequena participação dos pais na educação dos filhos, a formação de professores também tem papel importante nesse processo.
“A universidade no Brasil forma enfatizando fundamentos da educação, como Sociologia da Educação, Psicologia da Educação, entre outros pontos, porém, não há uma relação com a prática. É preciso recuperar o caráter profissionalizante na formação do professor”, acredita. Há um mito no Brasil de que a escola pública é muito ruim e a escola privada é muito boa. Na opinião da diretora, ambas são ruins, pois os professores são formados pelas mesmas universidades. Pesquisa do Ministério da Educação (MEC) mostra que 60% dos professores não leem livros.
“Antes que pensemos que isso se deve aos baixos salários dos profissionais da educação, outra pesquisa aponta sobre hábitos de lazer: eles vão a barzinhos e bebem cerveja, mas não vão ao teatro”, comenta. Apesar dos desafios, houve acertos importantes na educação brasileira. “As crianças estão na sala de aula em números importantes. Mais da metade dos negros estão cursando o Ensino Médio. O Brasil foi o País que mais avançou no Pisa, teste internacional de qualidade da educação e hoje ocupa o 58º lugar em Matemática, entre 65 economias. Esse resultado é fruto de algumas políticas públicas educacionais corretas. O problema é a velocidade de transformação, que caminha a passos lentos.”