O País tem deixado de assumir um papel de protagonista no cenário mundial quando o assunto é meio ambiente. A falta de uma nova política e a implementação de uma agenda transparente e eficaz ficaram evidentes na Cúpula do Clima, realizada em abril deste ano, quando pouco foi apresentado.
A recente aprovação pela Câmara dos Deputados do Projeto de Lei (PL) 3.729/2004, ainda pendente de análise do Senado Federal, é outro indicativo de que seguimos na contramão do interesse global. A chamada Lei Geral do Licenciamento Ambiental vai flexibilizar o licenciamento de empreendimentos e atividades com impactos ambientais, como estradas e hidroelétricas.
A pandemia de covid-19 ainda impacta tal situação ao agravar as crises social e econômica. Este assunto é tratado em diferentes entrevistas feitas pelo Canal UM BRASIL. Acompanhe!
Pandemia também é uma crise ambiental
“A nossa incapacidade de integrar soluções ambientais em meio à pandemia de covid-19 só reforça a nossa incapacidade de integrar estas soluções de modo geral, não é algo novo. Já tivemos várias oportunidades de realizar este avanço em casos trágicos recentes da história do País, como nos das barragens em Minas Gerais – que deveriam ter fornecido um momento de reflexão sobre a necessidade de incluirmos metas ambientais de forma mais clara na nossa agenda –, mas não fizemos isso”, afirma a economista e cientista política Julia Sekula.
“O Brasil não vê estas soluções ambientais como oportunidades em níveis municipal, estadual ou federal. Poucos prefeitos têm uma visão melhor disso, mas não existe um consenso sobre a importância das medidas ambientais”, esclarece a coautora do livro Brasil: paraíso restaurável, lançado em setembro de 2020.
Setor privado assume o protagonismo sustentável no Brasil
Para o CEO da gestora de ativos BlackRock no Brasil, Carlos Takahashi, a despeito de desencontros sobre a agenda ambiental por parte de governos ao redor do mundo, inclusive o brasileiro, o setor privado tem se destacado ao incorporar e enaltecer ações sustentáveis do ponto de vista dos negócios.
“O que notamos em relação à retomada verde é, definitivamente, o setor privado assumindo o protagonismo. Então, não é, digamos assim, modismo ou tendência. ASG – tratar adequadamente as questões ambientais, sociais e de governança – não é incluir. É incorporar nas atividades. Este nível de consciência, de forma geral, parece ter chegado ao setor privado brasileiro em diversos segmentos”, afirma Takahashi.
Sustentabilidade e meio ambiente
É justamente na transformação da economia que Zysman Neiman, pesquisador e professor do curso de Ciências Ambientais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), entende estar o ponto mais difícil para alcançar o objetivo. “Se você pensar que as políticas têm de ser feitas de maneira que os recursos naturais possam ser usados para o bem-estar humano, mas que eles consigam se autorreciclar, você terá implantado uma política de sustentabilidade”, explica Neiman. O eixo principal mais difícil de resolver é o econômico, porque falar em recursos naturais é o óbvio, mas ninguém quer mexer no nó da questão”, finaliza ele, na décima aula do curso digital Desafios da Gestão Municipal no Brasil, produzido pelo UM BRASIL em parceria com a Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP).