Fechar

Relevância do Brasil é mais reconhecida no mundo do que regionalmente

DEBATEDORES | Carmen Fonseca

Clique no player e assista à entrevista!

A política externa brasileira, de certa forma, sempre instrumentalizou sua função na América do Sul em prol de um objetivo maior: adquirir mais relevância no sistema internacional. Contudo, apesar de ser considerado líder internacional, o País encontra adversidades na simples tarefa de se relacionar e definir uma estratégia totalmente consensual para a região, em virtude das muitas divergências e relutâncias internas. “Para o Brasil, foi mais difícil alcançar consensos em termos regionais do que internacionais”, defende Carmen Fonseca, pesquisadora do Instituto Português de Relações Internacionais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa, em Portugal.

Essas relutâncias ocorrem por razões muito variadas — históricas, estratégicas ou mesmo como contraponto ao fato de que o Brasil é visto ao redor do mundo como o principal país latino-americano (grande parte por causa do tamanho territorial). “De certo modo, um dos motivos de o presidente Lula, em seus dois primeiros governos, ter levado o País a trocar as prioridades [o mundo pela América do Sul] provavelmente traz a conscientização de que seria mais difícil o reconhecimento do papel do Brasil em termos regionais do que internacionais. [No início deste século,] o Brasil era visto de forma positiva pela maioria dos líderes mundiais, mas continuava a não ter o apoio da Argentina, ou ter até mesmo uma rivalidade, em um objetivo tão caro ao País: o de obter um lugar no Conselho de Segurança [da ONU], por exemplo”, pondera Carmen.

Outro ponto que a pesquisadora enfatiza é a construção conjunta de duas identidades para a política externa brasileira: uma voltada a ser reconhecida como uma potência global de peso; e outra que se direciona ao Sul Global, ou seja, de se vincular com os países que partilham de problemas em comum, como as desigualdades. “A política externa do Brasil, desde a redemocratização, tem transitado entre essas duas dimensões. As questões que ficam são como essas identidades irão se hierarquizar e, ainda, como o País irá se posicionar e definir a politica externa [daqui para a frente].”

Brasil no centro da discussão do acordo entre Mercosul e União Europeia

As reações que surgiram após a criação do texto do acordo entre os blocos econômicos do Mercosul e da União Europeia (UE), em 2019, se concentraram precisamente na forma como o Brasil estava lidando com a questão ambiental na época, sobretudo em razão dos desmatamentos e das queimadas que estavam ocorrendo na região amazônica. Por mais que o acordo envolvesse muitos países, o papel do Brasil e seu comprometimento com o meio ambiente eram centrais nos debates. Desde então, não houve mais avanços.

Agora, a Nação tem apostado em sinalizar uma postura que a leve ao centro da agenda ambiental internacional, considerando que a Amazônia seja um dos principais elementos na discussão das mudanças climáticas. “É inevitável e necessário que o Brasil desempenhe um papel importante na agenda internacional sobre o clima, e este parece ser o sinal que o governo tem dado”, frisa Carmen.

A tendência é de que a Comissão da UE junte esforços para mostrar aos países-membros que o Brasil contribuirá para que os tratados internacionais sobre clima e meio ambiente sejam respeitados. Com isso, a questão agropecuária representa uma janela de oportunidade — tendo em vista que o desconhecimento acerca das maneiras como ocorrem o monitoramento e a supervisão dessa atividade econômica é um dos pontos nevrálgicos do continente europeu. 

Freio na política externa a partir da década de 2010

O fim do segundo mandato do presidente Lula já dava sinais de dificuldades econômicas. Nos anos seguintes, Carmen explica, os perfis econômico, político e social do País já eram diferentes daqueles do início dos anos 2000. Isso contribuiu para que o nível de ambição e a importância que se atribuía à política externa se transformassem ao longo da última década. “A própria conjuntura do País, assim como o cenário internacional, moldou a forma como a política externa brasileira passou a ser feita. Quando nos referimos aos quatro anos do governo de Jair Bolsonaro, falamos da ausência de uma política externa. Contudo, essa desaceleração era algo que já existia nos governos anteriores, ainda que por motivos diferentes”, complementa.

A entrevista faz parte da série UM BRASIL e BRASA EuroLeads 2023, realizada em parceria com a  Revista Problemas Brasileiros (PB). Confira também as entrevistas produzidas na primeira edição da série, gravadas em 2021, e os episódios exclusivos em podcast na PB:  https://umbrasil.com/parceiros/brasa-euroleads/.

Mais Vistos
OBRIGADO POR SE CADASTRAR NA NOSSA NEWSLETTER! AGORA VOCÊ IRÁ RECEBER INFORMAÇÕES SOBRE QUESTÕES POLÍTICAS, ECONÔNICAS E SOCIAL DO BRASIL. CADASTRE-SE E RECEBA NOSSA NEWSLETTER!