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Diante da última “janela” do bônus demográfico que se abre atualmente, o Brasil tem a chance de formar novas lideranças. Contudo, para tanto, é necessário que as oportunidades de educação de qualidade, qualificação profissional e inserção nos ambientes produtivos sejam acessíveis aos jovens pobres e às pessoas negras — sobretudo diante do reconhecimento internacional do País como protagonista em diversas frentes, especialmente na ambiental.

“Com a quantidade de quotistas raciais e sociais que temos formados no País – comprovadamente com desempenho muitas vezes superior na maioria dos cursos universitários –, por que não vemos estas pessoas em posição de liderança relevante dentro das empresas?”, questiona Wellington Vitorino, diretor-executivo do Instituto Four,  organização responsável pelo ProLíder, programa voltado ao desenvolvimento de lideranças jovens, em entrevista ao  Canal UM BRASIL, uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).

No bate-papo, Vitorino argumenta que, para que este objetivo seja alcançado, uma rede de apoio e networking são verdadeiros divisores de águas no processo, além dos conhecimentos técnico e comportamental. “Para os melhores empregos, as vagas não estão publicadas nos jornais. Um headhunter ou uma pessoa influente faz esta busca, e se não há contato com a diversidade, as indicações serão das mesmas pessoas que já conhecem. Economicamente para a empresa, e socialmente para o País, isso acaba sendo muito ruim”, enfatiza. “Desde o setor público, passando pelo privado, até o terceiro setor, nas instituições com mais poder econômico ou zona de influência vemos que são [formadas por] pessoas que vieram dos mesmos lugares, embora isso já esteja mudando.”

Ambiente diverso é mais produtivo 

O diretor ainda ressalta que a diversidade é útil às empresas, e aos demais ambientes criativos, na hora de desenvolver ideias e criar insights, representando um grande potencial para a solução de problemas complexos na indústria, na agricultura, nos serviços e no governo.

Como deve ser a preparação de lideranças?

O executivo explica que é fundamental, primeiro, um conhecimento holístico do Brasil, da sua economia e da sua sustentabilidade. Em seguida, é necessário ajudar o indivíduo a se entender como liderança para ser capaz de gerar empreendimentos voltados à transformação social, seja público, seja privado. “Com cinco anos de programa, temos prefeitos e vereadores formados pelo ProLíder, além de dezenas de empreendedores e empreendedoras pelo País todo.”

Brasil como líder influente 

O executivo também afirma que o Brasil é protagonista em várias áreas, como Novas Energias, Novas Economias e Sustentabilidade. “Temos tamanho protagonismo ao ponto de que, para onde o mundo está seguindo, o Brasil não é um coadjuvante, é um dos principais agentes.” Ele pondera que isso é uma “porta aberta” para a formação de novas lideranças internas.

Mais “pedágios” no caminho

Vitorino foi eleito um Forbes Under 30, com destaque nas categorias Terceiro Setor e Impacto Social. Durante a conversa com o canal, ele reforça que aprender a construir planos e metas desde a adolescência foi essencial para que conseguisse estudar no exterior, um ambiente que, historicamente, pouquíssimas pessoas negras conseguem acessar, conforme explica. “Eu só saí do lugar de onde saí [periferia do Rio de Janeiro] e chegar onde estou porque tive um plano. Eu já sabia que queria estudar fora. Eu tive que pôr na cabeça que precisaria estar mais informado, pois, para mim, a distância seria maior. Eu sabia que teria que pagar ‘pedágios’ a mais do que outras pessoas e também que teria mais ‘paradas’”, lembra.

A entrevista faz parte da série UM BRASIL e BRASA EuroLeads 2023, realizada em parceria com a  Revista Problemas Brasileiros (PB). Confira também as entrevistas produzidas na primeira edição da série, gravadas em 2021, e os episódios exclusivos em podcast na PB:  https://umbrasil.com/parceiros/brasa-euroleads/.