2020: um ano de pandemia, medos, contestação da ciência e restrição à liberdade
Para entender a maior crise sanitária em um século e os desdobramentos da pandemia de coronavírus sobre governos, sociedades e comunidade científica, o UM BRASIL, em 2020, ampliou o espaço para historiadores, filosóficos e biólogos em seu canal. Com isso, o debate em torno do enfrentamento do covid-19 perpassou grande parte das conversas promovidas ao longo deste ano.
Desse modo, no mês em que se completa um ano desde que a humanidade passou a ter os primeiros indícios da existência de um vírus mordaz, destacamos algumas das principais entrevistas e debates realizados em 2020 a respeito da pandemia e das contingências comportamentais impostas por ela.
De acordo com o professor e historiador Leandro Karnal, toda pandemia gera negacionistas e alarmistas do fim do mundo. Além disso, ele critica a comunicação agressiva que se instalou no período pandêmico.
“O que me assusta nessa crise é a tônica de uma comunicação de todo mundo se insultando, achando que o perigo é o vizinho que bate ou não bate panela, e não o vírus. É preciso enfatizar esta questão: primeiro, preservar a vida; segundo, os empregos e a economia; e, por fim, a nossa capacidade de comunicação”, reforça.
A também historiadora Mary Del Priori traça um paralelo entre as pandemias de covid-19 e a de gripe espanhola, que assolou o mundo na segunda metade da década de 1910, destacando a falta de informação (pelo menos inicialmente) sobre o vírus nos dois casos.
“Não há cura para o covid-19 e nesse aspecto estamos mais ou menos no mesmo impasse que o da crise [de gripe] espanhola. Observo que no Brasil há o desespero da população, especialmente das camadas menos favorecidas, e um cansaço psíquico de ficar entre quatro paredes, além do desgoverno vindo de um governo que não dá orientações claras”, analisa.
Observando a sociedade atual, o filósofo Luiz Felipe Pondé argumenta que a “nossa civilização é a menos preparada para lidar” com uma pandemia. Segundo ele, as pessoas perderam a capacidade de lidar com o medo.
“Tecnicamente, do ponto de vista médico, estamos mais preparados, mas não estamos acostumados a viver o risco – o que escapa ao nosso controle – pelo fato de que estamos acostumados à segurança”, explica.
A respeito do vírus em si, os divulgadores científicos Atila Iamarino e Natalia Pasternak concordam, em debate, que o covid-19 precisa ser internalizado como um problema de longo prazo.
“Lembrando que vamos vacinar 7 bilhões de pessoas, se houver 1% de algum efeito colateral grave, esse 1% se torna extremamente significativo. Então, por isso, as vacinas precisam ser testadas, e isso leva tempo”, salienta Natalia.
Iamarino, por sua vez, indica que, como o combate ao coronavírus não vai acabar de um dia para o outro, é mais seguro se adaptar às condições impostas pelo patógeno. “As medidas para retardar o avanço do vírus são paliativas, mas fundamentais a essa altura, e os resultados são os que deviam orientar decisões políticas”, enfatiza.
Condensando diversos temas que marcaram 2020 – a descrença na ciência, o nacionalismo e o preconceito –, o filósofo Mario Sergio Cortella argumenta que a liberdade é um princípio coletivo e não pode ser exclusivo a alguém ou a um grupo.
“A minha liberdade não acaba quando começa a do outro, a minha liberdade acaba quando acaba a do outro. Se algum ser humano não é livre, nenhum ser humano é livre. (…) Nesse sentido, o exercício da liberdade se dá em meio à coletividade”, frisa.
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