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“Apesar de todas as contradições, o Brasil é um mercado extraordinário”, diz o fundador da Wise Up

DEBATEDORES | Flávio Augusto

Vale a pena empreender no Brasil, apesar de fatores como a burocracia, a ineficiência estatal, a complexa estrutura tributária e as leis trabalhistas “arcaicas” em vigor. É o que avalia o fundador e CEO da rede de escolas de inglês Wise Up, Flávio Augusto da Silva. Ele destaca ainda que o funcionamento da máquina política ignora o fato de que os micros e pequenos empreendedores são responsáveis por 70% da geração de empregos no País, ou seja, são os maiores empregadores.

“Apesar de todas essas contradições, o Brasil é um mercado extraordinário, com consumidores ávidos por produtos de qualidade, com gente talentosa disponível e a fim de fazer acontecer e de mudar de vida. São ingredientes que me fazem afirmar que vale a pena empreender no Brasil”, diz. Para ele, o maior penalizado neste cenário difícil é o trabalhador. Isso porque, segundo Silva, o trabalhador acredita que possui direitos que o “protegem”, mas na prática a realidade é outra. Um exemplo é a contribuição previdenciária que irá por água abaixo quando as regras da Previdência Social mudarem – algo que precisa ocorrer porque “a conta não fecha”.

“Já é um modelo fracassado, é uma pirâmide financeira, porque depende da entrada de novos contribuintes para pagar os que recebem hoje. Ou seja, todo mundo acredita que está fazendo uma poupança para um dia o governo usar para pagar a sua aposentadoria, mas não é verdade”. Além disso, o cidadão paga muitos impostos que não são revertidos como deveriam: não há segurança, escolas ou saúde de qualidade.

“O Brasil não é para amador. Empresário perde, mas sabe sobreviver na selva. Trabalhador não tem alternativa”, complementa. De acordo com Silva, o papel do empresariado na mudança desse cenário é se envolver visando mudar as regras do jogo. E isso vai além de defender os seus próprios interesses. Ele acredita que se houver uma sociedade na qual as pessoas ganham mais dinheiro, o empresário vai ganhar mais ainda, porque vai vender mais seus produtos. “A visão classista contaminou também o empresariado. E ele tem que representar a classe dos brasileiros”.

Silva ainda classificou de “desastre” a educação no País, porque, em sua opinião, o sistema de ensino não prepara as pessoas para o mundo real. “As pessoas chegam [ao mercado de trabalho] sem saber falar em público, escrever uma redação ou falar inglês. É claro que algumas empresas, como a minha, por exemplo, se aproveitam desse fato para vender um produto que é o curso de inglês. Obviamente, essa minha empresa só existe porque a escola é incompetente”.

O empresário também comparou o ambiente de negócios no Brasil e nos Estados Unidos. Ele criticou o fato de muitos jovens brasileiros desistirem do “sonho” de empreender, trocando projetos próprios pela estabilidade do serviço público. “Passamos por um período no qual tínhamos mais de 18 milhões de jovens se preparando para prestar concurso público. Não tenho nada contra o serviço público, acho que é importante existir pessoas capacitadas, mas 18 milhões é demais. A busca pela estabilidade é uma cultura medíocre que começou a ser difundida no Brasil e eu fico imaginando se o Bill Gates tivesse sido funcionário público em vez de ter criado a Microsoft”.

Segundo ele, a estabilidade no serviço público não é mais uma realidade, já que muitos funcionários públicos não estão recebendo salários – a exemplo do que ocorre no Rio de Janeiro. E para empreender, não é necessário estar em um lugar com ambientes econômico e político perfeitos, porque há empreendedores fracassando na Noruega, nos Estados Unidos e em Singapura, e outros vencendo na África, no Brasil e em países com ambiente menos favorável. O que faz a diferença é a atitude empreendedora, porque é a partir dela que as outras coisas acontecem.

Outra diferença apontada por Silva entre os mercados brasileiro e o norte-americano está em como ambos encaram o futebol. Apesar de ser paixão nacional por aqui, é lá que o esporte é mais rentável – o empresário é dono do Orlando City Soccer Club, time que tem o brasileiro Kaká como um dos seus principais jogadores desde 2015.

“Empreender em futebol no Brasil é uma atividade muito mais política que empresarial. Os clubes são entidades sem fins lucrativos, nos quais circulam centenas de milhões de reais, e um presidente não é nem remunerado. É o modelo trabalhado no País. Nem se eu quisesse investir num clube de futebol, seria possível, porque não posso ser dono nem acionista de um no Brasil. Aqui nos Estados Unidos, se o clube tiver alguma dívida, eu respondo com meu patrimônio pessoal”, exemplifica.

A entrevista faz parte da série “Diálogos que Conectam”, realizada pelo UM BRASIL em parceria com a Brazil Conference – evento realizado anualmente por alunos brasileiros da Harvard University e do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos.

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