Economistas avaliam o “desastre épico” da crise para a economia brasileira
Quando o UM BRASIL foi criado, há cinco anos, a economia brasileira ainda demonstrava sinais de que tempos difíceis estavam por vir. Desde então, entender a crise econômica e o lento processo de recuperação, bem como abrir espaço para propostas para a retomada sustentável do crescimento, têm sido alguns dos assuntos mais debatidos no canal.
Em 2016, no auge da crise, o ex-ministro da Fazenda, Luiz Carlos Bresser-Pereira, apontou a importância de aprender com as grandes nações, mas ponderou que, para resolver os entraves internos, o Brasil não deveria ignorar suas questões históricas e seus próprios interesses. De qualquer modo, ele argumentava que faltava disposição para resolver os problemas do País.
“O Brasil está numa armadilha macroeconômica, com taxas de juros muito altas e câmbio apreciado, que inviabiliza o investimento privado. O setor público, por sua vez, investe pouco nos setores que deveria. Falta diagnóstico para aprender a enfrentar a crise. É hora das elites se juntarem, por uma questão de sobrevivência nacional”, conclamou.
No mesmo ano, o sócio-diretor da Schwartsman & Associados e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC), Alexandre Schwartsman, não hesitou em pôr a recente recessão na conta de uma política econômica inoportuna, a qual classificou de “desastre épico”.
“Por força de decisões equivocadas, os gastos públicos cresceram muito além da capacidade de arrecadação. É preciso recuperar as condições e fazer com que o governo caiba dentro do PIB [Produto Interno Bruto]”, destacou.
Na linha das condições fiscais adversas, o ex-diretor do Banco Mundial para o Brasil e outros oito países, Otaviano Canuto, reforçou, em entrevista realizada no ano passado, que “todo ano, não importa quem governe, o gasto público no Brasil cresce em termos reais ao ritmo de 6% ao ano”.
Além disso, Canuto ressaltou outro problema grave que pressiona a economia brasileira: “Hoje, o País está acometido por uma espécie de doença, que é a combinação de uma ‘anemia’ de produtividade com uma ‘obesidade’ do setor público. Faz três décadas, particularmente as duas últimas, em que a produtividade não cresce ou cresce muito pouco, enquanto o resto do mundo está indo muito bem”, salientou.
Durante o processo eleitoral do ano passado, a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, demonstrou acreditar que a população estava começando a se dar conta dos problemas econômicos ao adotar uma postura contra a inflação e o aumento da carga tributária, de modo que o equilíbrio do gasto público teria de ser feito por corte de gastos.
“O que temos pela frente é um teste de maturidade para todos nós, sobre que país a gente vai ter. Tem um lado dessa história de que o dinheiro acabou. Se a gente for olhar, o Brasil só fez grandes reformas em situações de aperto”, avaliou.
Em entrevista divulgada neste ano, o estrategista-chefe da Rio Bravo Investimentos e ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, é categórico ao afirmar que o “setor público esgotou sua capacidade” de gerar crescimento, o qual dependerá cada vez mais “de pessoas e empresas que resolvam ampliar seus negócios”.
Franco resume os efeitos da crise sobre as conquistas econômicas do País da seguinte maneira: “Jogamos fora quase uma década e meia de esforços fiscais para voltar ao mesmo lugar. Aumentar o governo é a coisa mais fácil do mundo. Agora, o caminho óbvio é desfazer o que foi feito e voltar à situação em que estávamos.”
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