O escritor e historiador Laurentino Gomes, autor dos livros “1808”, “1822” e “1889”, analisa a sensação de pertencimento do brasileiro e também o atual cenário de inconformismo e desejo de mudança no País.
“O brasileiro quer um Brasil melhor. Ele acha que o País tem um espaço que merece ser ocupado no cenário internacional, mas que ele ainda não ocupou. Por outro lado, também percebo uma certa exaustão nesses sonhos relacionada ao período da redemocratização”, avalia Laurentino Gomes em entrevista ao UM BRASIL.
“O brasileiro achou que, uma vez terminado o regime militar, bastariam alguns anos de exercício da nossa democracia para que os problemas se resolvessem. Só que está demorando mais do que se imaginou. Com a corrupção persistente, a violência, a ineficiência do Estado e uma certa estranheza do País que nós temos, as pessoas estão chegando no limite. E isso é bom. O Brasil está adquirindo um senso de urgência de transformação. O brasileiro não tolera mais a corrupção, que nunca esteve tão exposta como hoje. Essa mistura de inconformismo com senso de urgência pode ser muito benéfica e levar a uma mobilização”, destaca.
Gomes entende que o brasileiro ainda tem uma perspectiva monárquica do poder. “O brasileiro não participa de nada (sindicato, partido político, assembleia de condomínio, reunião de pais), mas espera muito do Estado. É a visão do Estado como o ‘imperador provedor’ […] Só que, numa democracia republicana, quem constrói tudo isso somos nós […] O que está em Brasília é mais ou menos o espelho do que nós somos na média. O brasileiro, às vezes, cobra do Estado padrões de ética, de cidadania e de eficiência que ele não cultiva nas suas relações privadas. Ele fura fila, fura sinal, anda no acostamento quando há congestionamento na estrada, corrompe o agente público quando é da sua conveniência. Como melhorar tudo isso? Qualificando a sociedade brasileira pela educação, pela cultura, pela leitura, pelo debate”, conclui.