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Quem é o brasileiro que irá às urnas em 2022?

DEBATEDORES | Renato Meirelles

Boa parte do povo brasileiro está cansada de anos e anos de crise econômica, com dificuldade de enxergar um futuro promissor para o País, está chamando mais para si a responsabilidade pela própria vida – mas que, ao mesmo tempo, está carente de oportunidades e sem perspectiva de que o Estado garanta as condições básicas de progresso –, é assim que resume Renato Meirelles, fundador do instituto de pesquisa Locomotiva e do instituto Data Favela.

“O que a gente vê do eleitor é que ele passa a buscar experiência. Mais do que a procura por um candidato anti-establishment, atualmente, é muito mais importante para eles a resposta para a pergunta: ‘a vida está melhor hoje ou era melhor antes?’. Com isso, a renovação política fica em segundo plano”, pondera.

E o que isso diz sobre a “terceira via” na política brasileira? Para Meirelles, é uma ilusão acreditar que quem não gosta da esquerda ou da direita gosta de alguém “do meio”. “Essa população tem um jeito de enxergar a política muito diferente. E o que estamos vendo, na prática, é que o ‘centro’ também foi ocupado pela velha política.”

A entrevista faz parte da série de gravações feitas pelo Canal UM BRASIL – uma realização FecomercioSP – com a Brazilian Student Association (Brasa), a maior associação de brasileiros estudantes no exterior, e com a Revista “Problemas Brasileiros”.

País sem Censo interessa a quem defende orçamento que seja apenas politicamente conveniente

Na entrevista, Meirelles também comenta os efeitos do atraso na realização de um novo Censo Demográfico, bem como do corte de verbas para a pesquisa, recursos importantes para se identificar como vivem os brasileiros. A realização de um novo Censo deve ocorrer neste segundo semestre de 2022, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um distanciamento de 12 anos do último.

“Ter um país sem Censo é o mesmo que entrar em uma mesa de operação sem ter feito o raio-x ou o exame de sangue. É, mais ou menos, o que significa desenvolver políticas públicas sem um retrato preciso da realidade; é não entender as diferenças regionais em relação à pobreza, tampouco como se dá a diversidade da população brasileira. Quem ganha com essa demora? Todos aqueles que defendem um investimento público naquilo que é conveniente politicamente, como ocorre com o orçamento secreto, mas que não interessa para o cidadão”, enfatiza.

O efeito do downgrade na renda dos consumidores

Para Meirelles, não é possível ser líder de mercado sem ser líder na Classe C, que representa mais da metade da população brasileira. “É um público-alvo fundamental para se entender o comportamento de consumo do brasileiro, que melhorou de vida no passado, e que [mais recentemente] teve uma queda de renda – que veio depois de ter conhecido marcas e produtos aos quais, até então, não tinha acesso. Se tem uma coisa que brasileiro detesta é downgrade [em seu padrão de vida].”

Não é à toa, ele pontua, que o mau humor crônico e a insatisfação em relação à economia nacional afetem boa parte da população.

Outro ponto importante em relação a isso é que o consumidor da Classe C também está de olho nas práticas ESG, segundo Meirelles. “Ele sabe que a empresa precisa se empenhar muito para conquistar sua fidelidade; e, cada vez mais, faz uso disso ao comparar preço e qualidade. Por outro lado, há um crescimento do entendimento identitário desses consumidores. Eles querem se ver representados na publicidade e no desenvolvimento de produtos”, conclui.

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Foto: Fabiano Battaglin

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