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Política

É preciso que haja um diálogo cooperativo entre direita e esquerda

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Humberto Dantas Entrevistador(a)
Publicado em: 21 de julho de 2017

Uma das vantagens históricas do Brasil é a sabedoria política da conciliação – é algo que não pode ser jogado fora junto com a condenação da corrupção, afirma Joel Pinheiro da Fonseca, economista e filósofo, em entrevista ao UM BRASIL.

“É preciso que haja um diálogo cooperativo [entre direita e esquerda], e não uma luta distante e acirrada, se não, o caminho é a disfuncionalidade, um estado negativo de polarização” explica. No Brasil, as diferenças ideológicas não são tão fortes quanto em países hispânicos da América do Sul, como na Argentina, com pessoas pró e anti-Kirchner (referência aos presidentes Néstor e Cristina Kirchner que governaram o país por 12 anos desde 2003) ou na Venezuela, com pessoas pró e anti-Chávez (sobre Hugo Chávez que governou o país de 1999 até sua morte em 2013), comenta ele.

“Mesmo nos Estados Unidos, temos republicanos e democratas que, por vezes, nem sequer conhecem pessoas que votem em outro partido”, afirma Fonseca. “O Brasil sabe conviver melhor com a mistura, chegar ao equilíbrio. Esta é uma virtude liberal também: tolerar a existência de outro que não concorda com você”.

Pinheiro da Fonseca é economista formado pelo Insper e mestre em Filosofia pela USP, além de palestrante ativo do movimento liberal brasileiro. Segundo ele, jovens posicionados à direita, numa lógica liberal, se sentem cada vez mais confortáveis no cenário político nacional, diante da posição mais minoritária que tinham anteriormente.

“Existe um grupo de pessoas que tem tornado esse tipo de posição ideológica mais clara, palatável e possível entre os jovens brasileiros. Há sinais claros de mudança”, observa. Sobre os partidos políticos brasileiros e a pouca quantidade de representação formal de direita, ele afirma que é um reflexo do liberalismo não ser um movimento de massas. Também é necessário, segundo ele, fazer uma distinção entre partidos como o Partido da Frente Liberal (PFL) – e, posteriormente, seu sucessor Democratas (DEM) – e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), que às vezes trazem pautas liberais, e aqueles que tentam realmente vestir uma identidade liberal, como é o caso do Partido Social Liberal (PSL) com a frente Livres, que traz pautas em diversos âmbitos: social, cultural, além do econômico.

“O partido Novo é outro grande exemplo focado num Estado mais enxuto, que faz a economia funcionar”, explica o economista e filósofo. “Existe um discurso público, que perpassa vários partidos, e que vejo em seu caminhar ao longo da história uma direção um pouco mais liberal”, relata. O entrevistado esclarece que o conceito de liberalismo vem da ideia de que a sociedade tem uma ordem própria e não é preciso que nenhuma autoridade esteja a todo o momento determinando o que se passa.

“Hoje há um maior entendimento de que o indivíduo importa e decide aquilo que diz respeito a ele e que o papel do Estado não é o de ficar desenhando e moldando a sociedade.” Acerca dos debates entre direita e esquerda, Joel afirma que é impossível que estes sejam saudáveis se um dos lados partir da premissa de que o outro é desqualificado. “Não se trata de uma cruzada do bem contra o mal. Se você olha a disputa política assim, não existe espaço na sua mente para a ideia de democracia, o outro lado já está desqualificado de antemão.”

“Acho que a lógica liberal teve mudanças importantes especialmente quando aplicada ao Brasil”, observa Fonseca. Para ele, há diferenças em relação ao discurso liberal norte-americano, por exemplo, que é voltado ao combate de políticas sociais focadas na redução da miséria ou da pobreza. Em sua visão, no Brasil, já foi reconhecido que, se é preciso combater gastos excessivos do Estado, certamente não se deve começar eliminando políticas sociais, afinal estas podem ter papel importante em uma sociedade com carência muito grande. Segundo ele, haveria noção da necessidade de certas intervenções estatais para agir na base da pirâmide social.

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