Jornalismo independente é imprescindível à democracia
ENTREVISTADOS
Em um período no qual as pessoas cobram posicionamento uma das outras e as redes sociais são inundadas de opiniões, o jornalismo convive com tentativas – manifestadas, inclusive, por autoridades – de desqualificá-lo, graças a reportagens que desagradam os mais distintos grupos organizados. Contudo, mesmo sob ataques, o compromisso com os fatos e o espaço para a pluralidade de ideias formam não apenas a base de sustentação da imprensa independente, como também da democracia de qualquer nação.
Assim avaliam o papel da imprensa na atualidade, em debate promovido pelo UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP, o diretor de redação da Folha de S.Paulo, Sérgio Dávila, e a editora de Diversidade do mesmo jornal, Flavia Lima.
De acordo com Dávila, só e possível fazer jornalismo independente quando não se tem amarras. Além disso, ele destaca que um dos desafios da atividade é “assegurar a pluralidade de vozes quando parte delas quer fechar o jornal”.
“É mais fácil fazer jornalismo independente, porque é mais fácil fazer jornalismo sem amigos e inimigos. O jornal que tem a sua lista de intocáveis e dos que devem ser sempre criticados torna a profissão quase impossível, porque os intocáveis vão fazer besteiras que merecem ser noticiadas, e os que devem ser sempre criticados terão bons feitos que merecem ser noticiados”, sintetiza o diretor de redação da Folha, publicação que completou cem anos em fevereiro de 2021.
Ombudsman do jornal de maio de 2019 a maio de 2021, Flavia complementa ressaltando que, independentemente de ameaças, o jornal tem como função para a sociedade se manter crítico e apartidário.
“Diante de iniciativas autoritárias e que busquem, no limite, eliminar o jornalismo, o que temos de fazer é explicar para o leitor o que acontece sem dar palanque para o autoritarismo”, frisa a editora.
Dávila, por sua vez, reforça que o jornalismo profissional acaba quando se ergue uma ditadura.
“Sem democracia, não há jornalismo. É simples assim. O jornalismo é chamado de ‘quarto poder’, watchdog [cão de guarda, em inglês], ‘guardião da democracia’. E isso por um motivo muito simples: sem um, o outro não existe plenamente. Veja como foi fazer jornalismo durante a ditadura militar que houve no Brasil”, comenta o diretor da Folha, referindo-se ao período em que os periódicos eram censurados, e os jornalistas, perseguidos.
Diversidade e inclusão
À frente da editoria de Diversidade, Flavia explica que a seção nasceu quando a redação notou que “a cobertura jornalística não refletia a sociedade na qual vivemos”. Com isso, para não se limitar a um público de classe média, fenotipicamente branco e do Sudeste do País, o jornal avaliou que o conteúdo mais abrangente só nasceria com uma redação mais diversa.
“Para produzir algo que reflita esta realidade, o conteúdo também precisa ser feito por estas novas vozes. (…) Se você não inclui determinado segmento da sociedade na cobertura, ele entende que não tem nada a ver com isso”, declara a editora.
Assista na íntegra! Inscreva-se no canal UM BRASIL.
(Flavia Lima; foto: Eduardo Anizelli/Folhapress)
(Sérgio Dávila; foto: Eduardo Knapp/Folhapress)
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