O antropólogo e professor Roberto DaMatta fala sobre igualitarismo, coletividade, cultura e relações sociais, mostrando caminhos para possíveis avanços, durante entrevista ao UM BRASIL.
Segundo ele, os brasileiros ainda vivem regidos pelos valores de uma sociedade aristocrática e hierárquica. “A vinda da família real portuguesa ao Brasil trouxe ao nosso País um sentimento muito forte de aristocracia. O Brasil, de repente, deixou de ser uma colônia e virou o centro de um império colonial português. Esse sentimento sobrevive entre nós. Quem quer ser comum numa sociedade aristocrática? A nossa bússola de navegação social é querer ser barão. Ninguém quer ser um joão-ninguém; todo mundo quer ser alguém. Essa oposição entre alguém e ninguém é o que gerou o ‘você sabe com quem está falando?’, o ‘jeitinho’ brasileiro, que são reações anti-igualitárias”, avalia.
Roberto DaMatta chama a atenção para a sensiblidade do brasileiro em observar “roupas, detalhes, gesticulação, modo de falar, maneira de segurar o talher”, embutida na cultura aristocrática. “Ser comum é ser inferior. Em uma sociedade desse tipo, é muito difícil falar em democracia igualitária, onde todos têm direitos e deveres iguais, onde somos todos iguais perante a lei, porque, nas sociedades aristocráticas, as pessoas não eram iguais perante a lei”.
Segundo ele, essa dificuldade é visível no ditado “aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei”. Para o antropólogo, o Brasil precisa começar a viver mais a agenda republicana e igualitária, onde todos são iguais. “Não importa qual seja sua profissão, seu cargo, você tem que parar no sinal vermelho”, exemplifica.