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Fragilidades no sistema político impedem avanços de reformas de longo prazo no Brasil

DEBATEDORES | Sarah Maslin

Há uma imensa dificuldade na promoção de reformas profundas no Brasil, e isso ocorre não apenas pelas diferenças regionais e pelas desigualdades sociais, mas também em decorrência do desenho do sistema político. “Não é fácil convencer parlamentares a fazer as reformas, e, muitas vezes, estas acabam gerando problemas em outros aspectos, como no fiscal. Para controlar o crescimento dos gastos públicos por meio de reforma, por exemplo, também será necessário repassar recursos a quem votará no projeto”, afirma Sarah Maslin, jornalista americana que assina o mais recente relatório especial da revista The Economist sobre o Brasil, publicado em junho.

A entrevista ao Canal Um Brasil, uma realização da FecomercioSP, foi conduzida pelo jornalista Jaime Spitzcovsky.

“O Brasil nunca levou as reformas de longo prazo a sério. Sempre as fez no último momento, para não ‘quebrar’, mas não em áreas que poderiam aprofundar a competitividade e torná-lo atrativo a empresas que ajudem a sustentar um crescimento de longo prazo; bem como em setores que tornem o País menos dependente de commodities”, pondera a jornalista.

Segundo Sarah, a lentidão com que os políticos põem reformas estruturais em prática decorre da percepção de que em poucas ocasiões estas grandes mudanças se traduziram em votos, de modo que as pessoas estão muito acostumadas a olhar mais para obras locais, que ainda funcionam como “moeda de troca”. Além disso, ela comenta, a população desacredita tanto na capacidade dos políticos brasileiros de fazerem reformas de longo prazo, que votam em quem prometer coisas “para amanhã”, pois haverá uma chance maior de que algo seja feito.

“São problemas estruturais do sistema político, que não consegue restringir os próprios privilégios e, consequentemente, não consegue responder a outros problemas. Isso é extraordinário no Brasil”, avalia.

Brasil e América Latina

Na entrevista, a jornalista pontua as diferenças entre o Brasil e outras nações vizinhas que estão em meio a conflitos econômicos, sociais ou políticos. “As instituições brasileiras são mais fortes do que em outros países [da América Latina]. Em El Salvador, por exemplo, o presidente Nayib Bukele conseguiu, com seus aliados no Congresso, destituir quatro magistrados da Suprema Corte. Restaram poucos checks and balances [freios e contrapesos]”, pondera.

“No Brasil, há 30 partidos. Isso dificulta que um presidente consiga controlar o Congresso. Ainda que [a quantidade de partidos] seja um obstáculo às reformas estruturais, isso ajuda a assegurar que o País não seguirá por caminhos menos democráticos, como El Salvador, Bolívia e Venezuela”, conclui Sarah.

No relatório, publicado em junho, a revista The Economist avaliou o cenário brasileiro em diversas frentes: a relação entre os poderes da República; o desafio institucional; a expectativa social quanto aos rumos do País pós-eleições de 2022; a desaceleração econômica da última década; os avanços e retrocessos no combate à corrupção; o desmatamento e a necessidade de um plano de desenvolvimento sustentável para a população da região amazônica; igrejas como atores políticos; e o contraste em torno de políticos jovens e mais reformistas em meio a estruturas partidárias antigas.

Assista na íntegra! Inscreva-se no   canal UM BRASIL.

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