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Política

Daniel Bell discute meritocracia e experimentalismo chineses

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Publicado em: 7 de novembro de 2017

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“Temos essa visão dogmática de que o sistema é imutável, mas ele pode mudar”, avalia o filósofo canadense, professor das universidades de Shandong e Tsinghua, Daniel A. Bell, sobre o funcionamento do modelo do Estado chinês, baseado na “meritocracia política”.

Em conversa com Renato Galeno para o canal UM BRASIL, ele ressalta que as transformações sociais devem tornar o gigante asiático mais aberto, mas dificilmente uma democracia eleitoral. Sobre a relação entre desenvolvimento econômico, liberdade e democracia, Daniel Bell afirma que o exemplo chinês mostra que, pelo menos nas primeiras fases do desenvolvimento econômico, a democracia pode ser até um obstáculo.

“Se por democracia nos referirmos à competição entre diversos partidos, que exacerba a falta de harmonia na sociedade, então a China escolheu um caminho diferente, com uma organização que tem apenas um partido forte”, explica Bell.

“Mas esse partido, em si, é grande e diverso. É chamado de ‘comunista’ quando inclui também o capitalismo. Trata-se de uma organização plural.” Para o filósofo e professor, a sociedade chinesa está destinada a ser cada dia mais aberta, uma vez que atualmente seus interesses se mostram diversos. “Até recentemente o foco era o desenvolvimento econômico, pois isso era necessário para reduzir a pobreza”, avalia o especialista.

Ele ressalta também que a meritocracia sempre foi imperativa na política chinesa. “Os agentes públicos sempre foram promovidos de acordo com sua habilidade de gerar crescimento econômico.” Agora, avalia Bell, as necessidades da China são muito diferentes. “Há o [problema do] desenvolvimento ambiental e ainda há pobreza, além da necessidade de ouvir o que as pessoas instruídas têm a dizer”, explica.

“Acho que isso tudo vai tornar a China uma sociedade mais aberta, o que pode levar até 30 anos. Mas a questão que permanece é se isso vai levar de fato a uma democracia eleitoral, com concorrência multipartidária no topo”, diz Bell. Para ele, seria interessante para o país asiático preservar as vantagens da “meritocracia política” – que significa uma organização diversa no topo que promove os agentes de acordo com o mérito. Ainda sobre o modelo chinês, ele explica: “A China é um país gigante. Nos níveis hierárquicos mais baixos, há eleições, o que quer dizer que nas cidades e vilas as pessoas votam para eleger seus representantes. Para atingir os níveis mais altos de governo, na teoria e também na prática, é preciso passar por uma espécie de processo meritocrático. É uma combinação de desempenho nos níveis mais baixos do governo com avaliações e exames e que pode demorar até 40 anos para alguém chegar ao topo.”

A entrevista faz parte de uma série realizada em Pequim durante o Brazil+China Challenge 2017, ocorrido nos dias 1º e 2 de setembro. São 12 produções que serão divulgadas todas as terças-feiras até o dia 19 de dezembro. A equipe do UM BRASIL conversou com nomes como o economista Rodrigo Zeidan, o diplomata Marcos Troyjo e a especialista em relações internacionais Adriana Abdenur.

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