Com pandemia, problema fiscal deixa de ser prioridade
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“Gastar 5% do PIB [Produto Interno Bruto] e correr riscos financeiros mais para frente ou ver centenas de milhares de cidadãos, amigos, familiares e idosos morrerem?”. De acordo com o diretor do Columbia Global Centers | Rio de Janeiro, representação da Universidade Columbia no Brasil, Thomas Trebat, essa é a escolha que o governo brasileiro tem de fazer diante da proliferação do novo coronavírus.
Em entrevista ao UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP, o economista norte-americano com PhD em economia brasileira diz que, em função da pandemia de covid-19, o esforço para equacionar as contas públicas se tornou uma pauta secundária.
“É hora de virar o espaço fiscal que tiver para encarar a crise”, afirma Trebat. “Isso significa que a pauta de reformas – Tributária, Administrativa e de privatizações – não volta? Voltará, mas, certamente, a política econômica do Brasil vai virar 180 graus daqui até o final do ano ou até meados do ano que vem. A Reforma Liberal não vai ser prioridade para ninguém”, complementa.
Para o economista radicado no Brasil há quase dez anos, a política econômica que vinha sendo implementada pelo atual governo – baseada em reduzir a participação do setor público na economia – “são ideias moldadas para um Brasil que não existe mais”.
“A prioridade do governo é outra. Preservar a saúde pública, em primeiro lugar, e começar a reativar a economia logo na sequência”, sintetiza o economista.
Segundo Trebat, na atual conjuntura “a liderança tem que vir do governo e o setor privado tem um papel secundário a cumprir”. “Sempre deveria haver um equilíbrio entre o papel do Estado e o setor privado, uma colaboração e, num momento de crise como o atual, um comando central do governo sobre a atividade econômica”, salienta.
Partidário da política de isolamento social, Trebat indica que a melhor maneira de proteger a economia durante a pandemia envolve restringir o fluxo de pessoas, preservar a renda das camadas mais pobres e prover condições de as empresas manterem suas estruturas.
De acordo com ele, embora as condições econômicas do Brasil não sejam as ideais, mesmo assim são mais favoráveis do que em outras épocas para enfrentar uma crise, em função dos juros em patamar baixo, da inflação controlada e da reserva de divisas internacionais.
“O Brasil tem recursos financeiros e deveria lançar mão dessas medidas sem se preocupar excessivamente com o que os investidores vão achar, se vai haver calote no futuro devido à alta razão de dívida/PIB. Não é hora de se preocupar com isso. É hora de jogar água no incêndio e depois se preocupar com o estado fiscal da União”, assevera Trebat.
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