Historicamente, o Brasil busca um papel de influência no mundo e acredita ter o potencial de ser um dos principais decisores da política global, mediante uma diplomacia que visa alcançar um lugar de destaque dentro dos órgãos internacionais. Contudo, a imagem nacional, aos olhos dos representantes da política externa das grandes nações mundiais, é de uma potência média e sem fôlego para ser mais do que isso.
“Há um descompasso entre a posição que o Brasil entende ter direito de assumir nas relações internacionais e o lugar que as principais potências veem que, de fato, poderíamos ocupar”, afirma Daniel Buarque, pesquisador no Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP). “Um exemplo clássico é a organização de um acordo nuclear entre o Irã e o Ocidente. O Brasil se juntou com a Turquia para fazer uma negociação paralela, mas que não teve influência ou respaldo pelo Conselho de Segurança da ONU”, enfatiza. “O País pode acreditar ser uma grande potência, mas precisa ser reconhecido como tal pelas outras nações. Precisamos, primeiro, entender como equilibrar as nossas identidades interna e externa e, a partir disso, desenvolver estratégias para atingir essa posição que se almeja.”
Em entrevista ao Canal UM BRASIL — uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) —, Buarque mapeia o histórico da ambição nacional de conquistar um espaço nas mesas de decisões, objetivo que foi almejado por vários governos ao longo de décadas, muito por causa da mentalidade presente no Itamaraty de projeção de grandeza da Nação, bem como de não aceitar um lugar reduzido.
Quando se olha a atual situação das relações internacionais, porém, já não há mais lugar para a multipolaridade, conforme ocorreu no início do século, sobretudo com forças emergentes. “O mundo atual está muito apegado aos poderes militar e econômico, o que se concentra principalmente nos Estados Unidos, na China e na Rússia. França e Reino Unido também não têm tanta voz”, salienta o pesquisador.
Liderança ambiental é caminho natural ao Brasil
Ainda segundo Buarque, a Nação só conseguirá o status que busca ao alcançar grandes avanços. “Será reconhecido quando a sua economia for vista como exemplo; quando conseguir de fato avançar com uma negociação diante de uma crise global; quando assumir uma liderança regional em nome da América Latina; e quando consolidar a imagem de protagonista quando o assunto é meio ambiente”, adverte. “O Brasil tem o potencial de ser a principal liderança ambiental do planeta, e esta tem se tornado a questão mais relevante.”
Políticas de governo, não de Estado
Na entrevista, o pesquisador ainda destaca que falta ao Brasil uma estratégia de política externa consolidada, de forma que, atualmente, observam-se mudanças de direcionamento conforme o governo da ocasião.
“Misturam-se as questões políticas e ideológicas com as econômicas. Tivemos brigas com a China, nosso maior parceiro [econômico]. Essa turbulência ideológica, assim como a falta de uma política de Estado permanente, atrapalha as nossas relações comerciais”, frisa. Com isso, pondera, o País falha em conseguir projetar uma imagem coerente.
“Nenhum status poderá ser construído artificialmente. O ponto número um para construirmos nossa imagem é fazer o Brasil se desenvolver, equilibrar as finanças, ter estabilidade política e parar de viver as turbulências que sofremos e de mudar toda a condução política a cada governo, além de contar com uma grande estratégia para se pôr no mundo. O caminho para mais peso na ONU não é pedindo, mas se mostrando tão forte que não será possível ‘fechar as portas’ a você”, conclui.