Modelo protecionista do Brasil e do Mercosul está esgotado
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O Mercosul é um fracasso porque só discute tarifa e não debate a parte regulatória, extremamente defasada, segundo a análise da professora da Escola de Economia de São Paulo (FGV), Vera Thorstensen. Em entrevista ao UM BRASIL, ela diz que o bloco não avança nas suas negociações com a União Europeia por perder tempo com questões supérfluas. “Discute-se muito sobre tarifas, exceção, regra de origem e não se parte para a real integração. O Mercosul está engatinhando na parte regulatória e o principal responsável por esse atraso é o Brasil”, diz.
“Não é só tarifa que a gente quer num acordo, não é só acesso a mercado, é tecnologia. O modelo brasileiro fechado, de se proteger, está esgotado. É disso que o Brasil precisa se convencer. Não é fechando o Brasil que a gente vai dar esse ‘pulo’ que precisa. O Brasil não consegue mais exportar, não tem mais competitividade”, enfatiza durante a conversa com Jaime Spitzcovsky.
Apesar de ressaltar a importância de estreitar relações, a também coordenadora do Centro do Comércio Global e Investimento (CCGI) e titular da Cátedra OMC no Brasil questiona alguns acordos brasileiros, como o realizado com a Índia. “Sou a favor de fazer a abertura com troca. Precisamos pensar o que queremos do mundo. Não adianta fazer acordo com pobre, com países em desenvolvimento, porque eles produzem as mesmas coisas”, diz.
Ela também critica o fato de a área de serviços brasileira ser extremamente fechada. “É um escândalo. O comércio internacional de serviços do Brasil é todo fechado. Não é tarifa alta. É a regulação interna brasileira que não deixa entrar advogado, médico, engenheiro, é o corporativismo. E para exportar? Como você vai exportar se o serviço brasileiro é pouco competitivo e não está integrado no mundo?”
Ao destacar que os atuais cenários político e econômico fizeram com que o País perdesse qualquer proeminência no cenário internacional, Vera Thorstensen aponta possíveis caminhos. “O Brasil não pode se fechar. O País está isolado. É preciso repensar agenda de Mercosul, prioridade do acordo com a União Europeia, rapidamente fazer acordos com Canadá, Japão, com quem tem tecnologia, além de reformar as agências regulatórias brasileiras, que estão todas politizadas. O Brasil precisa ser passado a limpo”, avalia.
A economista reitera que atualmente os mercados brigam por tecnologia e que a ‘guerra’ entre o governo norte-americano e a China é justamente por isso. “Estamos vivendo uma guerra menos comercial e mais de dominação por tecnologia da informática e robótica. Não é uma corrida armamentista, mas uma corrida por tecnologia”, conclui.
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