UM BRASIL UM BRASIL MENU conheça o um brasil
Voltar
PRÓXIMO
 
Economia e Negócios

Trajetória fiscal rumo ao desastre inflacionário (de novo)

Abram Szajman
Abram Szajmanpresidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP)
Publicado em: 17 de junho de 2025

A situação fiscal do País é grave. 

Pior: os sucessivos governos não têm se preocupado com o problema, ameaçando o nosso presente e o nosso futuro. Estudos — como o de Marcos Mendes — mostram como, em 2027, o Brasil já não terá margem para as despesas discricionárias, ainda que, para aquele ano, estejam previstos R$ 122 bilhões em gastos dessa espécie, dos quais R$ 55 bilhões serão emendas parlamentares obrigatórias e R$ 70 bilhões para complementar custos em saúde e educação. O resultado: um déficit de R$ 3 bilhões para outras despesas.

Esse descontrole fiscal está quase sempre ligado a práticas populistas. A ilusão de conquistar a confiança dos mais pobres acaba justamente prejudicando-os. Dois exemplos são sintomáticos. Um é a inflação dos alimentos, que acumula alta de 8% em 12 meses, enquanto os preços, no geral, subiram 6% no mesmo período. A comida é o que mais pesa no orçamento das classes menos abastadas. O outro são os juros elevados, que aumentam o custo do crédito e elevam a dívida das pessoas. 

Hoje há quatro caminhos no horizonte: aumentar a carga tributária e elevar o endividamento público (que não são razoáveis); implementar um ajuste fiscal sério; e, por fim, ajustar as contas via inflação. Os dois primeiros se esgotaram. A carga tributária brasileira alcançou um dos níveis mais elevados do mundo em desenvolvimento, respondendo por quase 35% do Produto Interno Bruto (PIB). Além disso, não é justo exigir mais dos contribuintes, especialmente de pequenas empresas, que já lutam com dificuldades para sobreviver. É por isso que a sociedade reagiu, corretamente, tão mal ao ajuste recente do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Em outra ponta, a dívida pública bruta ultrapassa os 80% do PIB, limitando espaço para mais endividamento sem comprometer a credibilidade fiscal e pressão dos juros. 

É evidente que a escolha deveria ser o ajuste fiscal. No entanto, o que está na mesa é apenas a última opção — a da inflação. É a mais injusta, regressiva e a que mais compromete o desenvolvimento de longo prazo. Além de corroer o poder de compra dos mais pobres, desorganiza expectativas, inibe investimentos e mina a confiança nas instituições. 

O único caminho socialmente justo e economicamente responsável é um ajuste fiscal baseado em reformas que melhorem a qualidade do gasto público, reduzam desperdícios e tornem o Estado mais eficiente. Persistir no atual rumo é condenar o País à estagnação e à instabilidade. Ignorar a realidade fiscal é aprofundar a desigualdade e comprometer o futuro das próximas gerações.

Artigo publicado originalmente no jornal O Estado de S.Paulo no dia 17 de junho de 2025.

CONTEÚDOS RELACIONADOS

Sociedade

Redução de jornada e seu custo invisível

PECs não consideram efeitos devastadores da mudança em quem luta para manter negócios vivos em meio à insegurança jurídica

ver em detalhes
Economia e Negócios

A Economia Mundial em 2025: Já que não é valsa, o que dançar?

A complexidade da economia mundial em 2025 exige mais do que previsões e modelos: exige sensibilidade estratégica, coragem política e visão de longo prazo

ver em detalhes
Economia e Negócios

A Economia Mundial em 2025: A Valsa que não está sendo dançada

"A economia não funciona como dançar valsa, dois pra lá, dois pra cá", opina reitor do Ibmec Rio.

ver em detalhes

Quer mais embasamento nas suas discussões? Siga, compartilhe nossos cortes e participe do debate!

Acompanhe nossos posts no LinkedIn e fique por dentro
das ideias que estão moldando o debate público.