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Economia e Negócios

Sufocados pelos juros

Ivo Dall’Acqua Júnior
Ivo Dall’Acqua Júniorpresidente em exercício da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP)
Publicado em: 27 de agosto de 2025

O volume de juros pagos por famílias e empresas atingiu R$ 1,148 trilhão em 2024. Foi uma alta de significativos 17% em relação ao ano anterior, segundo um estudo que fizemos na FecomercioSP.

Essa carga pesou mais sobre as famílias: um naco de R$ 859,9 bilhões direcionado a elas para esse fim, aumento de cerca de 20% em comparação a 2023. Nesse mesmo período, em um descompasso perverso, a massa de renda anual delas avançou apenas 3,2%.

Nada de refresco também às empresas, cujo pagamento de juros alcançaram R$ 287,9 bilhões em 2024, um avanço de 7,8% sobre o ano anterior.

Dados como esses expressam a pressão crescente que os juros exercem sobre o País, comprometendo o consumo e os investimentos. Para as empresas, esse elevado custo financeiro, somado a uma carga tributária excessiva, é uma trava estrutural que impede mais inovação, geração de empregos e um crescimento sustentado da economia.

Para as famílias, por sua vez, números como esses apontam para uma retração no poder de compra que, por sua vez, afeta a dinâmica cotidiana da economia e, então, coloca em xeque a própria vitalidade do País.

Mais complexo ainda é o fato de que, mesmo com juros altos, o crédito continua em expansão: o volume de recursos fornecidos às famílias subiu 7,4% em 2024, alcançando R$ 2,22 trilhões, por exemplo — enquanto, para as empresas, a alta foi de 4,4%, chegando a R$ 1,64 trilhão.

Isso significa, acima de tudo, que o consumo no Brasil tem sido financiado pelo crédito. Ou seja, há uma dependência do mercado financeiro na demanda tanto das famílias quanto dos negócios. Isso eleva a fragilidade do sistema em caso de desaceleração econômica, como se aventa que esteja acontecendo agora.

Essa concentração de renda do setor financeiro revela um desequilíbrio estrutural comprometedor. Na verdade, o aprofundamento dessa distorção só corroerá ainda mais a capacidade de compra, sufocará a competitividade produtiva e tornará inviável qualquer estratégia de crescimento duradouro.

Fato é que, sem um ajuste fiscal efetivo e uma sintonia real entre as políticas monetária e fiscal, o Brasil corre o sério risco de permanecer preso a juros reais na casa de 7% a 8% por um período prolongado.

Recolocar o investimento e o consumo no centro da agenda econômica é, portanto, condição indispensável para romper o ciclo perverso dos juros e restaurar as bases do desenvolvimento do País. Do contrário, com esses custos financeiros persistentemente altos, a economia brasileira seguirá operando com o freio acionado. Não é o que queremos.

*Ivo Dall’Acqua Júnior é presidente em exercício da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).

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