A moralidade na política
Há quem insista que política é um território inevitável de trapaças, no qual princípios atrapalham e convicções se perdem rapidamente. Essa máxima, repetida com um certo ar de sabedoria amarga, cumpre um papel preciso: reduzir nosso horizonte de expectativas. Quando acreditamos que todo gesto público é contaminado, desistimos de cobrar o que torna a vida em sociedade possível: a responsabilidade.
Não foi sempre assim. A política já foi entendida como um projeto coletivo de virtude e convivência. Aristóteles a definia como o caminho para o bem comum. Montesquieu lembrava que o poder precisa ser vigiado para não se corromper. Mesmo em tempos mais recentes, autores como Amartya Sen defendem que a justiça não nasce no gabinete, mas no encontro entre ética e decisão pública.
Onde essa conversa se perdeu?
A resposta talvez esteja na naturalização do descrédito. A repetição constante de que “nada presta” não é apenas desabafo: é um anestésico social. Ela esvazia a indignação, seca a fonte da participação e transforma o abuso em rotina invisível. Quando deixamos de esperar retidão, deixamos também de denunciá-la quando nos é negada.
E o que acontece quando a moralidade sai de cena? As desigualdades se aprofundam sem alarde. As decisões públicas passam a servir a poucos. O espaço coletivo se torna território de desistentes.
A verdade incômoda é que a falta de ética na política raramente é um acidente: é um projeto que depende da nossa desistência. Toda vez que qualificamos o interesse público como ingênuo, alguém mais experiente em privatizar benefícios celebra em silêncio. O ceticismo pode ser um ato de lucidez, mas também pode ser a capitulação perfeita. Democracias se sustentam menos pelo voto e mais pela vigilância cotidiana, pela exigência de que o poder não se torne privilégio.
Moralidade na política não é idealismo: é necessidade democrática. Se queremos democracias melhores, precisamos primeiro recusar padrões medíocres.
A conduta ética não aperfeiçoa a política: ela a torna possível.
*Maria Zeferino é Graduanda no curso de Relações Internacionais do Ibmec RJ
O texto acima é fruto de uma parceria entre UM BRASIL e Ibmec. Clique aqui e saiba mais.

CONTEÚDOS RELACIONADOS
Política
A moralidade na política
Moralidade na política não é idealismo: é necessidade democrática. Se queremos democracias melhores, precisamos primeiro recusar padrões medíocres.
ver em detalhes
ESG
O que esperar da COP 30?
O País deve defender revisão e antecipação das metas climáticas, pois adiar compromissos eleva impactos e custos.
ver em detalhes
Economia e Negócios
Reforma Administrativa é um dever moral
A Reforma Administrativa não é uma pauta de governo, mas de Estado, afirma presidente em exercício da FecomercioSP
ver em detalhes
