A Economia Mundial em 2025: Já que não é valsa, o que dançar?

Se em 2025 a economia global já não dança uma valsa previsível, o que torna essa dança ainda mais complexa? O cenário mundial é marcado por uma série de tensões estruturais que desafiam a estabilidade e o crescimento. A inflação, a dívida pública, a reorganização das cadeias produtivas e a desigualdade econômica são apenas alguns dos passos tortuosos dessa coreografia improvisada.
A inflação global, que chegou a 10,2% em novembro de 2022, caiu para 4,4% em janeiro de 2025, mas permanece acima da média pré-pandemia de 3,6%. Bancos centrais continuam utilizando taxas de juros elevadas para conter a inflação, o que impacta negativamente o crescimento econômico, especialmente em países emergentes.
A dívida pública, inflada pelos gastos durante a pandemia e pela guerra na Ucrânia, continua alta. Soluções como emissão de títulos verdes, renegociação de dívidas e integração fiscal entre blocos econômicos estão sendo discutidas, mas enfrentam resistência política e institucional.
Influenciando a inflação mundial, os preços das commodities agrícolas, como cacau, café, laranja e carne bovina, subiram significativamente nos últimos 12 meses. Por outro lado, produtos como azeite, arroz, soja e trigo sofreram quedas acentuadas. Essa volatilidade reflete fatores climáticos, mudanças na demanda global e políticas comerciais, dificultando o uso eficaz das ferramentas de controle.
A reorganização das cadeias de suprimentos é outro fenômeno marcante. Empresas estão diversificando seus fornecedores para reduzir a dependência de regiões específicas. A Índia surge como alternativa viável, graças à sua força de trabalho e incentivos governamentais.
Mesmo com essa reorganização, a desigualdade econômica continua a aumentar. A automação ameaça empregos de baixa qualificação, enquanto a demanda por habilidades técnicas cresce. Países que investem em educação e requalificação estão colhendo os frutos de maior competitividade, dificultando o fortalecimento de regiões mais pobres.
A economia circular, baseada na reutilização e reciclagem de materiais, tem ganhado força. Estimativas indicam que ela pode adicionar trilhões de dólares ao PIB global até 2030. No entanto, países exportadores de combustíveis fósseis enfrentam desafios significativos, à medida que o mundo se afasta do petróleo e do carvão.
A África, com sua demografia jovem, surge como o próximo grande mercado, oferecendo potencial de consumo e inovação. No entanto, infraestrutura precária e instabilidade política ainda são entraves significativos. Países com maior capacidade de resiliência e menor aversão a risco podem aproveitar esse crescimento no futuro.
Na América Latina, especialmente o Brasil, há potencial agrícola e energético para liderar a economia verde. O Brasil deve crescer 2,2% em 2025, segundo o FMI, mas enfrenta desafios como instabilidade política, baixa produtividade e dependência de commodities. O “tarifaço”, pero no mucho, norte-americano ainda tem potencial para influenciar negativamente esse crescimento.
A Argentina, após forte ajuste fiscal e desvalorização cambial, projeta crescimento de 5% em 2025, com queda na inflação e aumento das reservas internacionais. No entanto, o sucesso dessas reformas depende da estabilidade política e da confiança dos investidores, o que após alguns escândalos no governo Milei não estão tão certos quanto outrora.
A complexidade da economia mundial em 2025 exige mais do que previsões e modelos: exige sensibilidade estratégica, coragem política e visão de longo prazo. A dança global continua, mas o salão está repleto de obstáculos e ritmos conflitantes. Para que essa valsa volte a ser dançada com harmonia, será preciso afinar a orquestra da cooperação internacional, investir em inclusão econômica e garantir que os passos da inovação não deixem ninguém para trás.
*Samuel de Jesus Monteiro de Barros é doutor em Administração, especialista em Finanças e Reitor do Ibmec Rio
A primeira parte deste artigo foi publicada na última sexta-feira (12) no site do Canal UM BRASIL. Clique aqui e confira.
O texto acima é fruto de uma parceria entre UM BRASIL e Ibmec. Clique aqui e saiba mais.

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