Aprender a ensinar, por Deniz Mizne
Por Denis Mizne
Se o nosso maior desafio já esteve em garantir acesso universal à sala de aula, agora está em melhorar os resultados do tempo investido por professores e alunos dentro dela. Dados da Prova Brasil indicam que, ao fim do quinto ano, com dez anos de idade, apenas metade dos alunos sabe Português em níveis satisfatórios e 40% dominam Matemática. No nono ano, os índices caem para 30% e 14%, respectivamente. É chegado o momento de enfrentar o fato de que a aprendizagem não está acontecendo e, mais grave, nossos jovens estão deixando de atingir seu potencial máximo, com grande impacto para suas trajetórias individuais e para o desenvolvimento do País.
As causas das lacunas de aprendizagem são muitas, e a solução não virá de apenas uma iniciativa. Entretanto, há alavancas essenciais para reverter o quadro. Uma delas toca diretamente na figura do professor. Ele é o único capaz de garantir que todas as demais iniciativas visando à aprendizagem sejam efetivadas dentro da sala de aula. Quem tem grande responsabilidade merece atenção.
Dados de pesquisa realizada pelo Todos pela Educação apontam que praticamente metade dos professores (49%) não recomendaria a profissão. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que ouviu estudantes brasileiros de 15 anos de idade, apenas 2,4% deles querem seguir uma carreira docente.
Certamente, há muitos aspectos que contribuem para a baixa atratividade da carreira. Entre eles, a não valorização do professor impõe um desafio por si só: enquanto não o superarmos, dificilmente atrairemos os alunos mais bem preparados para a profissão. A isso, somam-se as lacunas da formação inicial oferecida no Brasil.
Nos países onde os desafios de aprendizagem têm sido menores, o preparo oferecido aos futuros professores carrega também os aspectos da prática pedagógica. Eles aprendem, além de conceitos e teorias da educação, a ensinar. Um processo que começa na universidade, mas que não se encerra nela.
Elemento em comum entre países e redes de ensino no Brasil que têm apresentado bons índices educacionais são as chamadas “comunidades de aprendizagem”. Nelas, o desenvolvimento do professor é responsabilidade compartilhada e exercida por todo o corpo profissional da escola, em especial pelo coordenador pedagógico. A ele cabe o papel de construir com os professores um acompanhamento orientado à garantia da aprendizagem. Um apoio útil ao docente que, em geral e infelizmente, trabalha isolado e solitário na sala de aula.
Vale nota também o fato de que até há pouco não estavam claros quais eram os conhecimentos essenciais que todo aluno deveria aprender. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) cumpre, nesse sentido, um papel fundamental e traz desdobramentos. Um deles toca a revisão da formação dos professores. Não apenas a formação inicial, que garantirá o alinhamento dos novos profissionais a essas expectativas de aprendizagem, como também a continuada – essencial para os docentes em exercício.
É hora de enfrentarmos as questões que têm contribuído fortemente para o desperdício anual de talentos no nosso País. A educação deve (e pode) cumprir seu papel primordial, criando condições para atrair e desenvolver seus profissionais. Ela pode (e deve), sobretudo, ser capaz de preparar nossos jovens para realizar seus projetos de vida, contribuindo também para o desenvolvimento do Brasil.
*Denis Mizne é diretor-executivo da Fundação Lemann
Artigo publicado na revista Problemas Brasileiros, edição especial de setembro de 2018.
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