Desafios da geopolítica mundial: democracia, eleições e comércio
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- Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas do Grupo Eurasia, defende que, em termos eleitorais, Europa, Estados Unidos e América Latina vivem tendência de crescimento da competitividade de candidatos antissistema.
- O executivo ainda argumenta que, com o Donald Trump na Casa Branca, as lideranças europeias não podem mais contar com o país norte-americano.
- Na conversa, Garman também afirma que, em todo o mundo, existe um debate do que representa ser uma democracia real. Enquanto nos Estados Unidos há uma interpretação de liberdade de expressão individual sem freios, no Brasil e na Europa são observadas mais restrições, argumenta.
Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas do Grupo Eurasia, defende que, em termos eleitorais, estamos observando um movimento muito claro na Europa, nos Estados Unidos e em boa parte da América Latina.
Essa tendência, explica ele, é o crescimento da competitividade de candidatos que se colocam contra o sistema, seja o Judiciário, seja a mídia tradicional, sejam as instituições. Essa movimentação pode ser vista tanto no espectro político de esquerda quanto no de direita. Na Europa, frisa Garman, também temos movimentos políticos associados a posturas contrárias à imigração.
“A porcentagem de residentes que nasceram fora do próprio país está no mais alto pico desde a virada do século, então, é natural que o eleitorado acabe privilegiando candidaturas que sejam anti-imigratórias”, explica o executivo. “Temos uma mistura de um certo movimento anti-imigratório de um lado, com uma demanda antissistema do outro”, conclui.
Em entrevista ao Canal UM BRASIL — uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) —, Garman ainda debate o conceito de democracia em diferentes países, o futuro da relação entre Estados Unidos e Europa e um possível acordo entre Mercosul e União Europeia.
Debate conceitual sobre democracia
- Diferentes visões. O diretor-executivo para as Américas do Grupo Eurasia afirma que, em todo o mundo, existe um debate do que representa ser uma democracia real. “Veja que é interessante que nós temos um debate político nos Estados Unidos, e outro no Brasil. É muito sobre o que é ser democrático”, afirma.
- Estados Unidos. “O governo Donald Trump argumenta que, numa democracia popular direta, é preciso contar com um Executivo empoderado, sem restrições do Judiciário, e uma interpretação de liberdade de expressão individual também sem freios”, lembra Garman.
- Outro lado. Segundo o especialista, na Europa, observamos um outro conceito de liberdade de expressão individual “com mais restrições”, pontua. Ele acredita que esse comportamento parta da intenção de proteger instituições democráticas — uma tradição que também temos aqui no Brasil, ressalta.
Relação entre Europa e Estados Unidos
- Rupturas. Garman argumenta que, com Trump na Casa Branca, o mundo vive uma profunda “ruptura” da relação transatlântica. “No primeiro mandato, Trump já tinha uma visão de que os Estados Unidos talvez deveriam se retirar da Otan e reduzir as tropas na Europa. Além da relação mais amigável com Vladimir Putin”, relembra.
- Constrangimentos. “Ao longo dessas últimas semanas de fevereiro, Trump não está apenas negociando um acordo de paz sobre a Ucrânia sem a participação das lideranças europeias e sem a participação da Ucrânia. Ele também veio a chamar o presidente Zelensky de ‘ditador’”, pontua. Garman ainda destaca o mal-estar ocorrido entre o vice-presidente americano, J.D. Vance, e a Alemanha, quando Vance afirmou que a união dos partidos de centro-direita para poder excluir o partido radical da direita é antidemocrática. “Um vice-presidente norte-americano deu uma lição de moral para a Europa, chamando-a de antidemocrática”, lembra.
- Má sinalização. Ainda de acordo com o especialista, a combinação de todos esses fatos foi um choque para as lideranças da Europa, porque, afirma o executivo, “no fundo, é um sinal que não podem mais contar com os Estados Unidos”.
Acordo entre Mercosul e União Europeia
- Próximos capítulos. Na visão do executivo, um acordo entre países do Mercosul e da União Europeia deve sair em breve do papel.
- Movimentações. “Há esse choque geopolítico: a América do Sul dificilmente vai impor restrições a investimentos chineses, mesmo que a Casa Branca queira”, afirma. Para ele, de um lado, Brasil e América do Sul estão se aproximando mais da China — que, por sua vez, está interessada em investir nessa região para diminuir a dependência dos Estados Unidos.
- Europa. “Mas também enxergo uma aproximação maior da América do Sul e do Brasil com a União Europeia”, pontua. “Eu acho que esse acordo do Mercosul deve sair mais cedo, em razão desse choque da relação transatlântica entre a União Europeia e os Estados Unidos”, completa. Segundo Garman, esse acordo pode ser ratificado na comissão e no Parlamento Europeu até dezembro deste ano — e, provavelmente, deve ser aprovado no Congresso brasileiro em 2026.
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