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Comunicação agressiva é o mais assustador na pandemia

DEBATEDORES | Leandro Karnal

*Entrevista gravada em abril de 2020

“É essencial que o País saiba cuidar daqueles que integram os grupos de risco de covid-19, como idosos e pessoas em situação muito precária e de extrema pobreza […] Para uma sociedade democrática e aberta, temos de fazê-la cuidadosa com os mais pobres, com os doentes, com os idosos, com as crianças; e, acima de tudo, uma sociedade não baseada em uma comunicação agressiva”. A avaliação é do historiador, professor e escritor Leandro Karnal.

Em entrevista ao UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP, Karnal ressalta que cada epidemia é única. “A covid-19 mata menos do que a peste bubônica e mata menos do que a varíola matava até o século 18, mas tem um potencial de destruição econômica talvez ainda pior do que todas as outras no passado”, pondera.

“Precisamos pensar em soluções extraordinárias para um período extraordinário. Não se trata mais de liberar um pequeno crédito para quem está desempregado; trata-se de [elaborar] um novo Plano Marshall competitivo e amplo que envolva FMI, Banco Mundial, BNDES e nossas reservas para salvar a maioria da população da doença e do desastre econômico”, avalia, referindo-se ao plano de reconstrução da Europa no fim da década de 1940 com base no auxílio internacional econômico e financeiro, de modo a reavivar a atividade econômica e garantir estabilidade social.

Um público para cada histeria: comunicação nos polos dos negacionistas e dos alarmistas do fim do mundo

“O que me assusta nessa crise é a tônica de uma comunicação de todo mundo se insultando, achando que o perigo é o vizinho que bate ou não bate panela, e não o vírus. É preciso enfatizar esta questão: primeiro, preservar a vida; segundo, os empregos e a economia; e, por fim, nossa capacidade de comunicação”, analisa Karnal.

Ele ainda ressalta que, historicamente, toda pandemia gera negacionistas e histéricos, dois polos terríveis: “Há aqueles que dizem que não está ocorrendo nada – são pessoas perturbadas –, e aqueles que dizem que é o fim do mundo”.

Karnal novamente contextualiza o fator “comunicação” durante a pandemia ao lembrar a heterogeneidade de público e as formas distintas como lidam com tal crise: “Há uma dissociação de públicos. Se o político ‘A’ faz um discurso dizendo que covid-19 não é nada, ele tem um público que aceita isso. Há público para alarmistas, para negacionistas, para pessoas que seguem a Organização Mundial da Saúde (OMS), e há público para quem manda um áudio dizendo que não se deve usar máscaras importadas da China – esse tipo de histeria também tem público. Hoje, o desafio da retórica é maior”.

Karnal ressalta que espera que a grande lição dessa crise seja a consciência de que estamos inseridos em uma realidade maior. “Não adianta me fechar em meu condomínio, na minha ilha de conforto; se ignorarmos o todo, os bárbaros tomam Roma”, conclui.

Confira a entrevista na íntegra. Inscreva-se no canal UM BRASIL.

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